quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Uma breve História do Carnaval


Natania Nogueira


No Brasil, o primeiro carnaval surgiu em 1641, promovido pelo governador de Salvador Correia de Sá e Benevides em homenagem ao rei Dom João IV, mas foi no final do século XIX que a festa começou a se popularizar. Populares se reuniam e, aos poucos, se formavam multidões de foliões. Era o entrudo, que tinha origem portuguesa e foi introduzido no Brasil provavelmente entre os séculos XVI e XVII. Consistia emum folguedo alegre, mas violento. Nos entrudos familiares, era comum usar-se os limões de cheiro, ou laranjas de cheiro - pequenas bolas de cera recheadas de águas perfumadas -, que eram vendidos em tabuleiros pela cidade, e que os foliões atiravam uns nos outros. Havia também jatos d’agua, farinha lama, cinzas, enfim, tudo que pudesse ser usado para deixar a outra pessoa suja. nos entrudo de rua, os populares, corria-se o risco de receber na cabeça o conteúdos de penicos, lançados na multidão pelos moradores dos sobrados. Além de tudo isto, havia também o risco de ser agredido por um policial, que usava o cacetete para apartar os ânimos da multidão.

Havia entrudos familiares e populares. Nas ruas, os homens de boas famílias se misturavam com populares, em sua maioria negros e mestiços. As senhoras tidas como honestas assistiam de longe, das sacadas das casas, e mais tarde passaram a participar do corso carnavalesco vespertino, dento de carros, protegidas do contato com os foliões das ruas.
Corso, é o nome que os passeios das sociedades carnavalescas do século XIX adquiriram no início do século XX, no Rio de Janeiro, após uma tentativa de se reproduzir no país as batalhas de flores características dos carnavais mais sofisticados da virada do século. A brincadeira consistia no desfile de carruagens enfeitadas – e, posteriormente, de automóveis sem capota
Foi na década de 1840 que ocorreu a separação entre a festa da rua, - popular, negra – da festa de salãobranca e segregada. Teria sido uma família de italianos do Rio de Janeiro a primeira a organizar estes bailes, à moda veneziana, com o uso de máscaras. A máscara, marcante até hoje nos carnavais de Veneza, ajudava a preservar o anonimato dos foliões, que se perdiam em meio aos salões. Nas ruas, as máscaras também eram usadas, algumas rústicas, outras improvisadas, mas sempre com o mesmo objetivo de manter o anonimato, pois, afinal, no carnaval as pessoas podiam se despir de certos pudores e cometer alguns excessos, que normalmente eram condenados pela sociedade.

A máscara representava uma segurança para o folião que não desejava ser recriminado durante o restante do ano pelas suas ações durante o carnaval. Nas ruas, multidões acompanham blocos e se disfarçam para poderem manter o anonimato e aproveitar os dias de folia, sem se preocupar com a constante vigilância da sociedade e da(s) igreja (s).
A nova modalidade de carnaval – o baile particularera considerada civilizada, mais européia e menos perigosa e tinha uma peculiaridade: pagava-se para participar. Portanto, era um baile para pessoas com posses.

no início do século XX o carnaval se torna uma festa mais familiar, com os primeiros matinês (bailes infantis) e com festas realizadas em casas de família. Aparecem também os concursos (de fantasias, tipos exóticos, etc) e cresce o prestígio das primeiras sociedades carnavalescas, que antecederam as escolas de samba. As sociedades eram clubes ou agremiações que, com suas alegorias e sátiras ao governo, encontraram uma forma saudável de competição.[1]

Este modelo de carnaval carioca – voltado para as elites – foi copiado em várias partes do Brasil. Na jovem capital mineira, Belo Horizonte, por exemplo, “o carnaval consistiria nos luxuosos desfiles de Grandes Sociedades Carnavalescas da cidade do Rio de Janeiro”[2], organizados pelos clubes de carnaval da capital, em substituição às manifestações populares como o entrudo. Estas associações de carnavalescos utilizavam os jornais impressos como forma de divulgar suas idéias sobre o carnaval. Neste sentido, não apenas no Rio de Janeiro, como também em grande parte do país, podemos verificar a presença dos periódicos na construção da imagem do carnaval no Brasil.
Carnaval em Leopoldina

Leopoldina teve muitos carnavais, onde as pessoas se divertiam. Nossos carnavais mudaram muito, mas a animação do nosso povo continua a mesma. Em Leopoldina, era muito comum amigos se reunirem para comemorar o carnaval, em blocos. Ainda hoje se faz isso.

Um tipo de bloco de carnaval muito comum era o bloco dos sujos, onde as pessoas desfilavam com seus rostos tampados com um pano branco ou uma fronha de travesseiro velha, usando trapos como roupa, pregando sustos e fazendo brincadeiras com quem encontrassem nas ruas.

Nosso mais famoso carnavalesco foi Mestre Vitalino Duarte, conhecido em Leopoldina por promover festas populares. Nasceu no dia 15 de agosto de 1932. Em 1955 começou a se interessar pelo carnaval e, em 1959, fundou a Escola de Samba Acadêmicos de Leopoldina, da qual foi presidente. Morreu em 2003, depois de 47 anos como carnavalesco.

Em seus primeiros carnavais, Mestre Vitalino desfilava pela cidade com uma Baiana e uma burrinha, arrastando multidões e cantando:

Arranjei uma burrinha,
Para brincar no carnaval,
Ai, ai, ai!
Ai, ai, ai!
A orelha era de palha
E o rabo de jornal,
Ai, ai, ai!
Ai, ai, ai!
Ê, ê, ê!
Ê, ê, a,
Montado na Burrinha,
Devagar eu chego lá!

Atualmente nosso carnaval ocorre nas ruas e nos clubes. Nas ruas ainda existem desfiles de blocos, alguns muito bem humorados, onde homens vestem-se de mulheres e aplicam trotes nas pessoas que assistem ao seu desfile, muitas vezes desorganizados. Há, também, blocos que reúnem pessoas de uma mesma profissão. O Bloco do Pó de Giz já ganhou espaço nos carnavais, contando com a presença dos professores da cidade e seus parentes. Outro bloco é o Bloco dos Fajardos, que reúne no carnaval os membros dessa família, uma das mais tradicionais de Leopoldina.



[1] Pequena História do Carnaval. Disponível em < http://br.geocities.com/biografiaschiado/HistoriaCuriosidades/HistoriadoCarnaval/historiadocarnaval.htm>, acesso em 13/12/2007.
[2] FILHO, Hilário Figueiredo Pereira. A conquista das ruas: um enredo possível para o carnaval de Belo Horizonte. Anais do XIV Encontro Regional de História da ANPUH/MG, Kuiz de Fora, 2004, p. 3

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Museu da Pessoa

Passei as últimas duas semanas em São Paulo e tiver a oportunidade de conhecer o Museu da Pessoa, a convite de uma grande amiga, Claudia Fonseca. O Museu da Pessoa foi fundado em São Paulo em 1991, com o objetivo de construir uma rede internacional de histórias de vida capaz de contribuir para a mudança social.

Mesmo sem internet na época, o museu já se definia como um museu virtual – um museu para preservação de histórias de vida, organizadas em uma base digital (banco de museus, CD-ROMs, etc.). O objetivo principal do museu era criar um novo espaço onde cada pessoa pudesse ter a oportunidade de preservar sua história de vida e de tornar-se uma das múltiplas vozes da nossa memória social.

Atualmente o Museu da Pessoa é formado por quatro núcleos (Brasil, Canadá, Estados Unidos e Portugal). Eles são autônomos, auto-sustentáveis e ligados por uma metodologia e objetivos comuns. O Museu da Pessoa no Brasil foi o primeiro e desde o início trabalhou em busca da sua auto-sustentabilidade.

Lá eles realizam dezenas de projetos, envolvendo desde memória institucional até projetos que visam o desenvolvimento local e da educação. Todos eles usam a metodologia de história oral. O museu é aberto ao público (curiosos e pesquisadores). Você não vai encontrar lá peças em exposição, pois o acervo é todo composto de entrevistas, gravados nas mais diversas mídias (de cassete a dvd).

Mas o museu dá a oportunidade para que qualquer pessoa possa fazer parte deste acervo, através de depoimentos colhidos em uma sala especialmente organizada para gravar relatos, que depois são editados e transformados em dvd. Qualquer pessoa pode ir lá, marcar uma entrevista, contar sua história e fazer parte do museu. É um verdadeiro deposito de memórias, que permite que uma pessoa comum possa guardar uma parte de sua vida para a posteridade.
Eu amei a proposta e sugiro uma visita virtual ao site do museu e, quem sabe uma ida até a sua sede para uma entrevista?