domingo, 4 de maio de 2014

O professor da Educação Básica e a necessidade constante de atualização


Esta semana, durante uma reunião em uma das escolas onde eu trabalho, foi solicitado aos professores procurem estar constantemente atualizados. Eu particularmente acho desnecessário lembrar ao professor que ele tem que se atualizar, mas fico pensando cá comigo o que a escola acha que é atualização. Ler mais, assistir documentários, fazer cursos, uma especialização, uma pós?

Veio-me, também, um outro pensamento: o professor tem chances de se aperfeiçoar? Muitos dos meus colegas trabalham em duas ou mais escolas, em dois ou mais turnos (eu trabalho em três turnos duas vezes por semana). Para os professores que moram em cidades do interior, como eu, longe de centros acadêmicos, muitas vezes fazer um congresso ou um curso, por exemplo, gera despesas.

Quanto temos a oportunidade de fazer um curso, uma oficina ou um congresso mesmo que a escola nos dispense, nosso salário pode ser descontado. Ou seja, temos gastos com inscrição, despesas com alimentação e viagem e temos remuneração diminuída. Mesmo que seja na nossa cidade, as opções que temos são os fins de semana, porque durante a semana o professor tem que cumprir horário na escola.

Se o curso ou palestra for durante a semana a coisa complica. Muitas vezes uma escola libera e a outra não. Em outros casos há a falta de comunicação e um professor deixa de aproveitar uma boa oportunidade de voltar a ser aluno pelo menos por alguns dias. E ser aluno, vamos reconhecer, é muito bom, principalmente quando você pode escolher as "matérias" que quer aprender.

Claro, há perspectivas melhores. Já recebi, algumas vezes, ajuda de custo da prefeitura para participar de congressos, até mais de uma vez por ano. E foi ótimo. Eu consegui aproveitar ao máximo. Eu me sinto renovada quando tiro uma semana durante o ano para fazer um congresso. Escolho a dedo aquele no qual vou poder tirar o máximo de proveito. Mas outros colegas não conseguem e acredito que a maioria deles nem sabe que pode solicitar o afastamento para uma atividade de aperfeiçoamento.

Existem instituições públicas e até particulares que oferecem cursos a distância, alguns gratuitos, outros pagos para quem quiser se aperfeiçoar em determinado tema. Há, também, o compromisso de Secretarias de Educação e do Governo Federal em oferecer atividades gratuitas a professores. Mas a oferta ainda é pouca e muitas vezes não atende à demanda.

Além disso, existem desafios urgentes. Vivemos num mundo onde tudo muda muito rápido e onde dominar a tecnologia se tornou fundamental para todo profissional, inclusive o professor. Maurice Tardif, pesquisador canadense (com livros publicados em português justamente sobre a questão da formação de professores) a quem tive a oportunidade de conhecer há alguns anos durante um congresso de educação, cita o avanço tecnológico como um dos muitos desafios que os professores enfrentam, em todos os níveis de ensino.

Achar que todos os professores conseguem dominar os TICs, que todos eles sabem como explorar os recursos disponíveis na internet, é querer se iludir. Dos mais jovens aos mais experientes, todos têm dificuldade. Eu sei disso tanto pelo convívio que eu tenho com colegas de trabalho, quanto pelas mensagens e e-mail que recebo de professores de todas as partes do Brasil, que precisam de material, mas não fazem ideia de como encontrá-lo. Não adianta dar um tablet de última geração a um aluno, se ele não sabe como usá-lo. O mesmo pode ser dito com relação ao professor.

Estamos sempre falando de formação, mas se pararmos para pensar naquilo que ela realmente poder vir a representar para um profissional do ensino, escreveríamos páginas e mais páginas, livros e mais livros, pois trata-se de um tema que vai muito além da superficialidade com o qual ele é tratado. 

Mas uma certeza eu tenho: é preciso estimular o profissional do ensino a buscar por mais conhecimento, por novas experiências.  O professor, assim como aluno, precisa ser valorizado e incentivado, precisa admitir a necessidade de acompanhar as inovações, precisa ser estimulado.

Esse estímulo começa dentro da escola, na troca de materiais entre os colegas de trabalho, na oferta de cursos que podem ser realizados dentro da própria instituição, na divulgação das atividades desenvolvidas pelos professores, na abertura da direção e da administração pública em garantir aos seus docentes a possibilidade de crescer enquanto profissionais. O professor deve ter consciência, também, do esforço pessoal que demanda essa constante buscar por saber mais, por ser mais engenhoso e criativo.


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