domingo, 21 de setembro de 2014

FRAGMENTOS DA HISTÓRIA LEOPOLDINESE: ILUMINAÇÃO PÚBLICA NO FINAL DO SÉCULO XIX

Lampião de azeite ou olho de baleia  - Luzes contra a Criminalidade na cidade Imperial. Disponível em http://zip.net/bspCRn, acesso em: 20 de set. de 2014.
Cada vez que analiso jornais antigos, mesmo que por uma segunda ou terceira vez, alguma coisa sempre chama a minha atenção. Hoje foi uma pequena nota do jornal O Leopoldinense, de 1881, que critica a desobediência de normas estabelecidas pelas posturas municipais da cidade de Leopoldina (MG). A Nota em questão, cita o fato dos moradores deixarem animais de grande porte soltos pelas ruas da cidade "pastando tranquilamente".

Ao que parece existia fiscalização, por parte de um fiscal, identificado como sendo José Marciliano, mas que o mesmo não tinha poder de reprimir essa prática. Tal fato nos leva a supor que havia limitações sobre a aplicação dos regulamentos locais, talvez por ser uma cidade pequena, talvez por falta de instrumentos legais eficientes ou mesmo empenho das autoridades em fazer cumprir as posturas.

Por outro lado, as mesma nota nos traz um bônus, que é a possibilidade ter uma descrição da cidade de Leopoldina no final do século XIX. Além de sabermos que havia pelas ruas  um número significativo de animais soltos, o trecho ainda descreve a cidade ao cair da penumbra:

"Durante a noite as trevas dominam toda a cidade; os transeuntes munem-se de lanternas para transitar por ella. Quem do alto de S. Sebastião, a essa hora contempla a arca da cidade, julga assistir em Roma o sahimento da procissão de S. Pedro."

O jornal cobra da Câmara a solução de dois problemas: a presença de animais de grande porte nas ruas e a questão da iluminação pública, pois uma vez que caia a escuridão, a população de fechava em suas casas. A necessidade de lanternas aponta para a ausência ou insuficiência de lampiões nas ruas, que na época já eram utilizados nas cidades brasileiras. A noite não era um espaço de socialização para as famílias e a falta de iluminação era uma ameaça à segurança pública, seja nas grandes ou pequenas cidades.

Veja abaixo o texto, na sua íntegra.

O Leopoldinense: Folha Commercial Agricola e Noticiosa Dedicada a Causa Publica e Social.  Leopoldina, 21 de abril de  1881, n. 28, p. 03
No que diz respeito à iluminação pública, é bom salientar que Leopoldina, neste sentido, não destoa de outras cidades, até maiores. A iluminação pública ainda era precária em todo o Brasil.

No século XVIII por exemplo, a iluminação do Rio de Janeiro consistia em oratórios murais, onde se ascendia o candeeiro de óleo de baleia ou uma vela de cera e durava muito pouco. Em 1828, foi criada por decreto imperial, a Imperial Companhia para a Iluminação da Cidade do Rio de Janeiro, encarregada do serviço de iluminação pública e privada a gás. O que não deu certo, pois a população desconfiava da segurança do serviço. É notório destacar que o Rio de Janeiro sofria com incêndios constantemente, o que justifica a desconfiança da população.

A iluminação pública era um desafio e passava de "mão em mão", usando um expressão coloquial. Chegou até mesmo a ficar sob encargo do Ministério da Justiça, durante o II Reinado. E eram os escravos os responsáveis pelos serviços de iluminação na Corte e em tantas outras cidades, como podermos verificar no texto abaixo:

"(...) houve seguidas reformulações administrativas no serviço de iluminação: em 1831, passou a ser competência da Câmara Municipal; em 1834, retornou à Intendência Geral de Polícia; em 1842, foi transferido para o Ministério da Justiça do Império; em 1949, embora ainda sob responsabilidade do Ministério da Justiça, a iluminação pública voltaria às mãos da Polícia, que passou a utilizar para o serviço 67 escravos, supervisionados por feitores. O Rio de Janeiro contava, então, com menos de 2 mil lampiões a óleo em suas ruas e praças (1)".

Retornando ao caso Leopoldina, temos uma ainda outras reclamações com relação à questão da iluminação das ruas da cidade. Em outra nota, publicada no Leopoldinense, em 25 de janeiro do ano de 1882, temos a seguinte descrição:

"É deplorável o estado em que se encontram algumas das ruas da cidade, como sejam a Boa Vista e a Sete de Setembro, notando-se que a falta de illuminação, obriga-se os transeuntes atolarem-se nos lamaçaes e boccas de lobo nelas abundantes.

A camara deve tomar qualquer medida, attendendo que os impostos são exagerados e todos paga sem tugir ou mugir (2)." 

Outro dado aqui presente é o estado de conservação das ruas, cheios de buracos e sem calçamento. Mais uma vez exige-se providências da Câmara Municipal e, ainda, cobra-se o bom emprego dos impostos pagos pelos moradores.


Fontes utilizadas:

A CRIAÇÃO da Companhia de Iluminação a Gás. Disponível em: http://zip.net/bfpCmP, acesso em: 20 de set. de 2014.

LUZES contra a Criminalidade na cidade Imperial. Disponível em http://zip.net/bspCRn, acesso em: 20 de set. de 2014.

O LEOPOLDINESE: Folha Commercial Agricola e Noticiosa Dedicada a Causa Publica e Social.  Leopoldina, 25 de janeiro do ano de 1882, n. 28.

O LEOPOLDINESE: Folha Commercial Agricola e Noticiosa Dedicada a Causa Publica e Social.  Leopoldina, 21 de abril de  1881, n. 08.  

Notas:
(1) A criação da Companhia de Iluminação a Gás. Disponível em: http://zip.net/bfpCmP, acesso em: 20 de set. de 2014.
(2) O Leopoldinense: Folha Commercial Agricola e Noticiosa Dedicada a Causa Publica e Social.  Leopoldina, 21 de abril de  1881, n. 08, p. 02.

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