sexta-feira, 25 de abril de 2014

LEOPOLDINA 160 ANOS: CRÔNICA

O texto abaixo é um crônica, vencedora do I Concurso Literário promovido pela academia Leopoldinense de Letras. A autora é Luisa Arantes, aluna do segundo ano do Ensino Médio. 

Convido todos à Leitura.

MEU TESTAMENTO DE VIDA OU DE MORTE

Autora: Luisa Arantes (16 anos)
Nasci em 1813, em um lugar de belas montanhas e de clima agradável. Para meu surgimento, tive a contribuição dos meus filhos legítimos, os índios Purís, que habitavam estas matas. Eu não tinha nome e nem era conhecida, mas mesmo assim eles me amavam e me respeitavam como eu era. Com a chegada dos que se achavam meus donos, mataram meus filhos por interesses mesquinhos e fúteis, cortaram minhas matas, moldaram-me e dominaram-me.

Fui crescendo e meus novos filhos adotivos me deram o nome de São Sebastião do Feijão Cru. Nome de santo era muito comum. Não me importei. Também me apelidaram por causa de um incidente culinário causado pelos tropeiros, mas emendar o apelido ao nome do santo? Relevei.

Mais tarde, para homenagear a segunda filha do Imperador D. Pedro II, a princesa Leopoldina de Bragança e Bourbon, fui chamada de Leopoldina. Antes eu era homem e agora sou mulher? Pelo menos esse nome é melhor. Se fosse em época atual e de carnaval, minha marchinha seria “Maria sapatão, sapatão, sapatão, de dia é Leopoldina, de noite é Sebastião!”

Minha importância foi aumentando. Ter a segunda maior população de escravos da província de Minas Gerais não foi motivo de orgulho para mim. Esses filhos, que aqui chegaram de maneira forçada, marcaram profundamente a minha história, a minha cultura e longos anos de minha vida, que jamais serão esquecidos, pelo menos por mim.

Com a chegada da abolição, pude compartilhar da alegria pela liberdade de meus filhos, que dançavam e cantavam celebrando uma nova vida, uma nova história e uma nova esperança. 

Logo em seguida, recebi novos filhos, de terras distantes, que vieram trabalhar com o cultivo do café, embalados pelas histórias que eles ouviam sobre mim. Cortaram-me com estradas e uma importante linha férrea, com a intenção de me ligar a outras regiões. 

Represaram minhas águas, construindo uma usina hidrelétrica, que abriu caminho para o que chamam de modernidade e inovações tecnológicas. Era o início do tal progresso. Com isso, recebi mais filhos adotivos que desejavam construir uma vida comigo ou desfrutar do que eu oferecia de melhor: educação e cultura.

Modéstia à parte, tive muitos filhos ilustres e inteligentes, como Clóvis Salgado, Augusto dos Anjos, Miguel Torga e Funchal Garcia, que marcaram grande presença em minha vida. Como citar nomes de filhos causa ciúme entre eles, vou parar por aqui, já que amo todos igualmente. O importante é que a minha forma de educar me deu o título de “Athenas da Zona da Mata”.

Já cantaram minha beleza, pintaram e representaram sobre mim. Tenho uma catedral divina, lindas praças e escolas. Percebo que a beleza da cultura que represento está estampada na gingada do capoeirista, na coreografia de uma dança, nos versos da folia, no vai e vem da agulha das bordadeiras e no cheirinho da comida mineira, que como essa não há outra igual. 

Com o passar dos anos, posso dizer que a maioria de meus filhos se esqueceu de mim. Não sou mais valorizada e nem lembrada como era. "De longe seus filhos lhe amam, de perto seus filhos reclamam". É com tristeza no coração que percebo a verdade nos versos do poeta. Fiquei estagnada no tempo, esquecida.

Lembra-se do córrego? Aquele que me deu nome... Agora está poluído, sem peixes, puro esgoto. Lembra-se dos meus filhos ilustres? Poucos os conhecem. Lembra-se das praças? Já não são mais as mesmas. Quando cortam minhas árvores centenárias e derrubam meus casarões, parece que meus filhos querem eliminar todas as raízes com o meu passado. 

Entristece-me ver meus filhos partirem, não há nada que os segure, mas sei que de longe sentem saudades e de perto só enxergam os meus defeitos, que sabe lá quem os criou.

Posso dizer que estou doente, em um leito de um hospital que precisa de ajuda também. Quem fez isso comigo? Talvez todos eles. Quem me fez adoecer? Todos? E quem quer lutar para a minha melhora? Ninguém. Ninguém não, já recebi, sim, visitas no hospital, de quem, assim como eu, luta para sobreviver. Quem luta por uma cidade melhor, quem luta para que ainda exista cultura e educação. Ainda bem que esses ainda estão aqui. Quem poderia imaginar? Eu, que quase fui capital de Minas, hoje sofro a indiferença até dos meus filhos. Espero que alguém ainda saiba de minha história, pois, pela minha idade, estou perdendo a memória.

Como não posso deixar nenhum bem para meus filhos legítimos, pois, infelizmente, estão mortos, deixo aqui registrado que todo o meu patrimônio histórico, cultural e natural, que ainda me resta, será deixado para os jovens que aqui residem. O meu futuro está na mão de vocês.

Espero que vocês ainda me queiram do fundo da alma. Que não me abandonem no escuro e sim que me levem para a luz. Sonho, como toda mãe, com o dia em que todos sintam orgulho por serem meus filhos.


Leopoldina, aos 160 anos.

quinta-feira, 24 de abril de 2014

O ENSINO FEMININO EM LEOPOLDINA: ALGUMAS NOTAS DO LEOPOLDINENSE (1881-1882)

Leopoldina não teve o apelido de Athenas da Zona da Mata à toa. Aqui foram fundadas várias escolas particulares, para atenderem às famílias de posses. Tanto a sede da cidade quanto seus distritos possuíam escolas que funcionaram em regime de internato, semi-internato e externato. Mas que isso não ajude a criar uma imagem idílica da educação em nosso município, durante o século XIX ou mesmo na primeira metade do século XX. 

Nas páginas do jornal O Leopoldinense desfilavam anúncios de unidades e ensino que ofereciam vagas principalmente do ensino primário, na cidade, nos distritos e em municípios vizinhos. Podemos citar alguns como o Collegio Bandeira (em Madre de Deus do Angú), o Instituto Collegial de Volta Grande, o Lyceu Leopoldinense, o Externato Azeredo (em Madre de Deus do Angú), O Collegio Abílio (Barbacena) e o Collegio Oliveira (São José de Além Parahyba).

Não havia, no entanto, acesso de todos à educação. Frequentavam essas escolas apenas quem podia pagar. Mesmo no caso da existência de subsídios, estes atendiam a um número reduzido de alunos. Vale lembrar que, no período em questão, década de 1880, Leopoldina tinha aproximadamente 40 mil habitantes, quase metade era escrava, uma boa parte vivia do trabalho na lavoura e só um número reduzido podia se dar ao luxo de oferecer aos filhos a oportunidade se receber as primeiras letras.

Priorizava-se a educação dos meninos. Mas na segunda metade do século XIX conheceu uma considerável expansão na oferta de instrução para meninas em Minas Gerais. Os primeiros colégios femininos criados em Minas Gerais surgiram em 1847, por iniciativa do Bispo Dom Viçoso (MUNIZ, 2003:177). As escolas de formação de professoras surgiram na década de 1870, quando as mulheres passaram a ser direcionadas para a carreira no magistério. A Lei n. 1789 de abril de 1871, e o Regulamento n. 62, de 1872, garantiram o acesso das mulheres ao curso do magistério (MUNIZ, 2003:189).

No caso de Leopoldina, e possivelmente de outros municípios da Zona da Mata próximas, meninas poderiam ser enviadas para escolas no Rio de Janeiro. No jornal O Leopoldinense, por exemplo, pulicava em destaque propaganda do Collegio Franco-Brasileiro, escola dedicada ao ensino feminino, localizada no centro da cidade do Rio de Janeiro.

Acredito que a demanda pela educação feminina tenha impulsionado o aumento do número de escolas e a oferta de vagas pela região. Baseamos nossa hipótese no aumento gradativo da oferta deste serviço, que pode ser notada nas páginas do O Leopoldinense. Se em 1881 o Leopoldinense anunciava o início das aulas do Collegio Nossa Senhora do Amparo, com destaque, em 1882 outras duas escolas da região oferecem vagas para meninas: O Collegio Santa Margarida (Rio Pardo) e o Collegio Santa Cruz (São João Neponuceno).

Pelos valores oferecidos aos pais é possível imaginar a estrutura e o limite do ensino que era oferecido. O corpo docente variava de acordo com o tamanho da escola e da oferta de matérias. A variedade de conteúdos e de atividades era uma forma de seduzir as famílias que, no final do século XIX viam a cultura letrada de suas filhas um atrativo para bons casamentos. Com o papel da maternidade cada vez mais valorizado, a mulher deveria ser além de boa esposa e mãe a primeira educadora de seus filhos.

Observe o currículo e o detalhamento com que os diretores de colégios maiores seduziam procuravam seduzir sua clientela.

O Leopoldinense. Leopoldina, 05 de janeiro de 1882, m. 02, p. 04 

Havia, também a oferta de aulas para meninas em collegios mais modestos, que normalmente se limitavam a salas de aula na localizadas na casa de um professor ou professora, para uma clientela mais humilde que não podia pagar por um internato em outra cidade ou mesmo em Leopoldina.

A professora Maria José da Fonseca participa aos senhores paes de suas alumnas que as aulas de seu colégio abrirão no dia 1º de fevereiro próximo futuro (O Leopoldinense. Leopoldina, 12 de janeiro de 1882, m. 04, p. 03)

Estes pequenos colégios, identificados pelo nome do professor ou professora por eles responsável disputavam espaço em Leopoldina com estabelecimentos maiores, como já citado Collegio Nossa Senhora do Amparo, que chegou a receber a visita do Imperador D. Pedro II, quando aqui esteve, em 1881.

Collegio da Nossa Senhora do Amparo

Dona Maria Augusta de Freitas Malta, continúa a receber alumnas internas de instrucção primaria, sendo a pensão mensal de 25$, comprehendendo os trabalhos de agulhas, e externas, 5$. Pararão mais 10$ as do curso superior de portuguez, francez e geographia á cargo do senhor Olympiuo Clementino de Paula Corrêa, professor do collegio.

As alumnas deste curso poderão fazer exame na instrucção pública da Còrte, se seus paes o quizerem, uma vez que a freguesia comece no corrente mez de Fevereiro e não seja interrompida durante o anno lectivo.
Leopoldina, 08 de Fevereiro de 1881.

Maria Augusta de Freitas Malta (O Leopoldinense. Leopoldina, 17 de fevereiro de 1881, n.11, p.04) 

Fala-se, inclusive, no ensino superior para mulheres, que já estaria sendo colocado em prática na Corte. Em matéria de primeira página, o editor do O Leopoldinense afirma:

Já não é só aos homens que a educação superior é ministrada; á mulher também já lhe toca o seu quintão e oxalá que as piedadenses e leopoldinenses concordarão com o seu obolo, para as aulas creadas ultimamente na corte para a instucção da mulher (CHANTILY. Instrucção Publica – Le monde marché. O Leopoldinense. Leopoldina, 1º de setembro de 1881, n. 64, p. 01)

As escolas particulares tiveram um papel importante na formação da identidade regional e as mulheres, especial, destacaram-se nesse processo. Vale lembrar que algumas das instituições de ensino particular mais duradouras da sede do município foram exclusivamente dirigidas por mulheres: O Colégio Imaculada Conceição, o Colégio São José e o Colégio Santa Therezinha. Mas isso é assunto para outra postagem.

FONTES:

O Leopoldinense. Arquivo da Hemeroteca Digital Brasileira - Fundação Biblioteca Nacional

MUNIZ, Diva de Couto Gontijo. Um toque de gênero: história e educação em Minas Gerais (1835-1892). - Brasília: Editora Universidade de Brasília; FINATEC, 2003.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

PALESTRAS CONTAM UM POUCO MAIS SOBRE A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO EM LEOPODINA


O evento faz parte das comemorações dos 160 anos da emancipação de Leopoldina e é aberto para toda a comunidade.
Participe e conheça mais sobre a nossa História!

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domingo, 20 de abril de 2014

Minhas Leituras de Feriado: série Laços de Sangue

Normalmente eu posto aqui comentários sobre livros que eu li relacionados ao meu trabalho. Livros sobre Teoria, Educação ou sobre História. Hoje vou me dar ao luxo de falar de ficção. 

Quem me conhece sabe que eu adoro um livro de fantasia/aventura/ação. Tenho até meus autores preferidos. Adoro Rick Riordan e o universo fantasioso de Percy Jackson. Li toda a séria de Harry Potter, escrita por J. K. Rowling. Sou apaixonada pela série Instrumentos Mortais, de Cassandra Claire. Sou também fã de Jane Austen (não é fantasia, é romance histórico, mas adoro o jeito como ela escreve).  

É nessa hora que meus alunos deliram, porque eu leio livros que eles leem, e meus amigos torcem o nariz (não estou nem aí, podem torcer). O caso é que adoro tudo que mistura fantasia, ação e romance. Isso mexe comigo, com a minha imaginação. Sem falar que é uma ótima forma de relaxar a mente. Muitos dos meus melhores trabalhos foram finalizados após eu ter feito uma pausa  para ler um dos meus livrinhos de ficção. 

Eles são escritos para adolescentes, mas fazem tantas referências a obras clássicas, a história e assuntos atuais que torna a leitura atraente para os adultos. E cá entre nós, os escritores são pessoas na faixa dos 30 a 50 anos que podem agradar a todas as idades.

Tenho um carinho especial pela obra de Richelle Mead. Li Academia de Vampiros e me apaixonei pelos personagens. Apresentei a mais duas amigas que se tornaram fã, também.

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Neste fim de semana,aproveitando o feriadão, eu mergulhei numa série derivada, chamada Bloodlines. Eu tinha comprado os dois primeiros livros mas não estava muito empolgada, porque a sinopse não me atraiu, e eles ficaram na minha estante. Saiu o terceiro livro e eu encomendei. Resolvi que não iria trabalhar no feriado e resolvi ler a série. Foi basicamente um livro por dia e eu AMEI! 

Capas brasileiras (clique para ampliar)
Capas originais (clique para ampliar)

Recomendo, ardorosamente. Mas, para entender melhor, tem que ler antes Academia de Vampiros, pois há muitas referências a personagens e acontecimentos anteriores.

Sabe qual é, para mim, a melhor qualidade de um(a) escritor(a)? Saber como valorizar seus personagens, sem distinção. Richelle Mead pega personagens secundários da série Academia de Vampiros e monta uma trama muito legal, cheia de emoção, divertida e relaxante. No final de cada livro fica aquele gostinho de "quero mais". 

Quando as séries terminam, os fãs ficam desolados porque querem consumir mais livros daquele universo de ficção. Quando você acha um autor que consegue colocar fim em um arco de histórias e recomeçar, trazendo novas perspectivas e mantendo a qualidade, é um presente para o leitor. E não tem como não dizer que isso é muito legal!

Obs: Este post foi feito especialmente para meus alunos e ex-alunos que estão sempre me indicando livros pelos quais eu acabo me apaixonando e especialmente para Marianna Lima e Luisa Arantes, que dividem comigo a paixão pela série criada por Richelle Mead. 

ANALFABETISMO DIGITAL?

Eu ando angustiada com uma questão que tem se tornado um problema para mim, ultimamente. Eu quero usar TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação) para trabalhar com meus alunos, mas tenho esbarrado com um questão inesperada: eles não sabem usar o básico da internet, como ferramentas de pesquisa simples, e-mail e mesmo os recursos de um chat.

É angustiante, quase desesperador, porque estes, em especial, são alunos de classe média, que têm computador e internet em casa. Daí eu me questiono: e toda aquela expectativa que se tinha acerca desta geração? 

Pela conversa que tive com eles, individualmente e em grupo, eles sabem postar fotos, conversar em chat e jogar. Fora essas atividades frívolas, a internet não tem nenhuma outra utilidade para meus alunos de 13 anos. 

Não os culpo. Quem sou eu para isso? Acho que eles foram deixados para aprenderem sozinhos coisas que eles não entendem. Eles não entendem que certos recursos que o computador oferece podem facilitar sua vida, ajudar no seu aprendizado e até em questões profissionais que, no futuro, vão exigir certas habilidades que quanto mais cedo aprenderem melhor.

Eu me vi ensinando a enviar um e-mail, a anexar um documento, a pesquisar no google, coisas que eu imaginava, na minha inocência, que eles saberiam fazer. Sempre acreditei que o problema maior fosse a edição de textos, uso do Word e até do PowerPoint, mas é muito pior do que eu imaginava. 

De que vale as escolas (e daí eu me refiro a escolas públicas e particulares, sem discriminação) terem laboratórios de informática se os estudantes não estão sabendo fazer o básico?

Eu sou uma pessoa prática. Acho que a escola deve ensinar para a vida. Saber usar bem os meios de comunicação é uma coisa que deveria fazer parte do dia a dia do aluno. Quanto mais o estudante sabe lidar com a internet e com os demais recursos que um computador oferece maiores as opções dele de crescer tanto em conhecimento quanto em experiência. 

Vejam bem, sou leiga no assunto, mas se eu fosse priorizar conteúdo em aulas de informática eu começaria ensinando como se usar o e-mail, depois como utilizar ferramentas de pesquisa, edição de textos e de sítios como blogs. Eu gostaria de ter tempo para levar meus alunos ao laboratório e fazer isso, mas estou presa ao currículo. Por mais que digam que o professor tem autonomia, o conteúdo tem que ser dado na íntegra e com o número limitado de aulas de história semanais, é um milagre que eu ainda consiga tempo para trabalhar algum projeto com meus alunos.

Há muita coisa boa que não é aproveitada. Um computador ou um tablet são, acima de tudo, recursos. Infelizmente, eles têm sido tratados como brinquedos por uma geração que prometia tanto, mas parece estar mal direcionada.

Enfim, este post é mais um desabafo. Talvez o que esteja acontecendo comigo seja uma exceção à regra. Talvez eu esteja sendo pessimista eu esteja tendo expectativas para muito além da minha realidade de trabalho. Talvez eu possa suprir essas deficiências com o tempo e usar mais os recursos da escola nesse sentido. Enfim, são muitas possibilidades, espero que prevaleçam as melhores.