terça-feira, 29 de julho de 2014

A Universidade do Estado de Minas Geriais (UEMG) incentiva a pesquisa em História Regional

Ao centro o professor Jorge Prata; à sua direita Barbara,  Luisa e Laura; à sua esquerda Júlia e Pedro.
O professor Dr. Jorge Prata está inciando um programa de incentivo à pesquisa envolvendo alunos do Ensino Médio. A princípio estes alunos, que frequentam o 2º ano do Colégio Imaculada Conceição (Leopoldina - MG), irão trabalhar como bolsistas numa pesquisa sobre a história de Leopoldina, em jornais do século XIX.

Uma iniciativa fantástica que não apenas contribui para a construção da História de Leopoldina como também oferece oportunidade aos jovens estantes de iniciarem-se na pesquisa o que, independentemente da profissão de desejem posteriormente seguir, será um diferencial na sua carreira profissional. Aguardemos os resultados que, acredito, serão os melhores possíveis, tanto para a nossa comunidade quanto para o jovens bolsistas.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

NINA ALBRIGHT E A HISTÓRIA DAS MULHERES NOS QUADRINHOS


Como sabiamente diz meu amigo e teólogo Iuri Reblin, eu sou movida a bateria. Quando enfio uma coisa na cabeça não descanso até finalizar (ou a bateria esgotar, o que geralmente acontece ao mesmo tempo). Em meio aos meus compromissos já assumidos do mestrado e com o encontro da ASPAS, tirei um tempinho para fazer uma pesquisa independente sobre uma cartunista norte-americana, cujo nome surgiu em meio às minhas leituras para o mestrado: Nina Albright.

Ela foi um artista de quadrinhos norte-americana durante a Era de Ouro dos Quadrinhos, uma das poucas mulheres que trabalhou em gêneros considerados não “femininos”. Ela atuou na produção de quadrinhos de aventura, superaventura, terror e romance. Era versátil. Foi roteirista, arte-finalista, letrista e desenhista. Começou sua carreira em 1940, no estúdio comandado Jerry Iger, empresário do ramo de quadrinhos e antigo parceiro de Will Eisner,

Eu meio que fiquei intrigada pelo fato de quase tudo que se fala sobre ela está resumido a um parágrafo como este aí acima. Eu pesquisei na internet até meus dedos ficarem dormentes de tanto digitar. Importunei a historiadora dos quadrinhos norte-americana, Trina Robbins (sempre muito amável) e cheguei a falar com o editor da AC Comics, Mark G. Heike, também muito solícito. Não consegui nada. Restou-me sua obra e essa eu encontrei em abundância. Daí, parti para uma tentativa ousada de dar um rosto e uma história a Nina Albright inserindo-a e a sua produção no contexto dos anos da década de 1940.

Acho que fui feliz. Espero ter sido. Em breve, estarei disponibilizando o texto para quem tiver interesse.

terça-feira, 22 de julho de 2014

Pequenas conquistas do dia a dia: oficina de quadrinhos na escola


Fazia um bom tempo que eu não levava para a escola uma oficina de quadrinhos. Na minha outra escola, eu já fiz muito isso, até porque temos uma Gibiteca lá. Na escola particular onde eu trabalho, também, nunca fiz simplesmente porque o tempo é tão contado que uma atividade assim acaba sendo deixada para depois e, sabe como é, o depois nunca chega. Ademais, preciso de pelo menos duas aulas seguidas para fazer a atividade, o que é raro acontecer. 

Hoje, por acaso do destino, eu fui cobrir o horário de outra professora, que está em curso, e tive duas aulas com uma mesma turma. De imediato eu pensei: por que não fazer a oficina com eles. Usei um parte da primeira aula para explicar noções básicas de uma história em quadrinhos. No restante do tempo os alunos se reuniram em grupos para produzir. O tema foi livre. A ideia era que eles exercitassem o que aprenderam.

Alguns vinham me mostrar quadro a quadro, outros me traziam o roteiro e perguntavam se a ideia para a Hq estava boa. Até eu me arrisquei e desenhei e roteirizei duas tiras. Entretanto dois trabalho me chamaram a atenção. Neles eu pude não apenas observar a apreensão de técnicas e conteúdos, como, também, distinguir estilos.

Apenas um aluno ainda não me entregou, mas selecionei duas para comentar. A primeira foi uma tira bem humorada sobre as peripécias românticas de Dom Pedro I. Simples e muito bem contado. O melhor de tudo, fez um bom uso de um recurso básico dos quadrinhos: o balão. Num dos quadros a autora da tira usa um balão indicador (aquele que indica a presença do personagem, mesmo ele não estando presente fisicamente na cena). 

É difícil este tipo de balão ser usado em uma Hq feita por alunos. Mas ela não apenas usou como fez um bom uso, sinal que prestou atenção nas orientações iniciais. Ficou fabuloso!




Já a outra Hq que me chamou a atenção, também feita por uma aluna, mostra vários quadros onde pessoas e animais invertem de posições. Coisa do tipo um homem sendo guiado pela coleira por um cão, ou um homem na gaiola e um pássaro livre. Um estilo bem underground (um tipo de quadrinho pensante, marginal, clandestino, paralelo que representa a resistência a um poder mais forte ou a contestação de valores aceitos que surgiu na década de 1970, ), bem poético (meu amigo Edgar Franco iria adorar). É um tipo de quadrinho crítico, maduro que faz um leitura mais profunda da realidade.

O curioso é que os alunos não fazem ideia do seu potencial. Acham que quadrinhos tem que ser bonitos. Mas uma Hq bem desenhada não significa uma boa Hq. Já tive alunos que me entregaram trabalhos com ilustrações lindas, mas rasos em conteúdo.

E falando nisso, essa oficina foi uma preparação para uma tarefa maior, na forma de Hq, que meus alunos terão que desempenhar ainda esse mês. 

Há também um bônus ao se trabalhar com oficina de quadrinhos. O produto da oficina nos revela muito mais sobre o estudante do que um ano inteiro de avaliações. Fica a dica. Consigam duas aulas durante o ano para trabalhar produção de quadrinhos e aprecie o resulto.

domingo, 20 de julho de 2014

FRAGMENTOS DA HISTÓRIA: ESTAMOS QUASE LÁ!!


Segue esta segunda, para a fase de revisão final, o Livro "Fragmentos da História: O Leopoldinense - 1881", organizado junto com os meus alunos do oitavo ano e que contou com a colaboração das pesquisadoras Nilza Cantoni e Mary Del Priore.

Além da Introdução e das Considerações finais o livro ainda terá cinco capítulos:

1. O LEOPOLDINENSE – 1880 A 1896
2. A ESCRAVIDÃO E A IMIGRAÇÃO NAS PÁGINAS DO LEOPOLDINENSE
3. CULTURA E EDUCAÇÃO NA LEOPOLDINA DO ANO DE 1881
4. ALGUNS FRAGMENTOS DO COTIDIANO LEOPOLDINENSE NO SÉCULO XIX
5. A VISITA IMPERIAL EM 1881

A pesquisadora Nilza Cantoni contribuiu com um pequeno capítulo onde conta um pouco da história do periódico analisado, " O Leopoldinense". Já a historiadora e escritora Mary Del Priore nos presenteou com um prefácio, onde faz comentários sobre a obra e sobre seus autores.

O livro, que terá 58 páginas, analisa a História de Leopoldina a partir das páginas do Leopoldinense, jornal que circulou no município de Leopoldina no final do século XIX. A pesquisa foi realizada através do site da Biblioteca Nacional, que disponibiliza por meio da sua Hemeroteca, várias coleções de jornais e revistas antigos. Foram consultadas 23 edições do jornal, no primeiro semestre do ano de 1881 e deles foram produzidos 21 textos pelos alunos do Colégio Imaculada Conceição. 

O lançamento está previsto para o mês de agosto (caso consigamos fechar todos os patrocínios) e o livro será distribuído gratuitamente para todas as bibliotecas das escolas do Município de Leopoldina, que neste ano completou 160 anos de emancipação política.

Leia um trecho do prefácio:

Esse “livrinho”, como o denominou modestamente sua organizadora, tem esse precípuo objetivo: revelar a vida de uma cidade, Leopoldina, seu cotidiano e hábitos de consumo, graças aos anúncios de jornal. Mas não só.

Ele nos mostra outros retratos: aqueles dos jovens e futuros cientistas que se deixaram levar pelo encanto da pesquisa histórica. Que se debruçaram sobre a bela massa de periódicos brotada na Atenas de Minas Gerais, produzindo a partir daí uma forma de conhecimento, uma interação com o passado. Também vemos aí suas verdes biografias: quem são, onde nasceram e estudaram. Um ou outro demonstrando sensibilidade maior para a interpretação dos documentos, e, em todos eles, a marca do trabalho bem feito, bem realizado, executado com prazer. Do trabalho coletivo de investigação à interpretação individual dos documentos, os textos autorais demonstram as mediações entre o saber contido nos livros e o saber construído por um grupo motivado (Mary del Priore).  

UM BOM AMBIENTE DE TRABALHO FAZ UM BOM PROFESSOR


Não adianta investir apenas na formação de professores, embora ela seja importantíssima para o êxito de qualquer profissional. É preciso, também criar bons ambientes de trabalho nas escolas. Um bom ambiente de trabalho permite que o professor desenvolva projetos, que ele alcance seus alunos e consiga tirar o máximo de proveito do seu trabalho. 

Um bom ambiente de trabalho também é importante para a saúde mental e física. E não sou eu que estou fazendo essa afirmação. Este é um dado confirmado por pesquisas, presentes em teses e dissertações que podem ser facilmente encontradas na internet. E quando falamos em ambiente de trabalho não estamos resumindo isso apenas ao ambiente físico, mas a tudo. Da organização do espaço às relações interpessoais. 

Um professor, assim como todo profissional, precisa ter segurança para exercer sua profissão. Não apenas segurança física mas saber que terá apoio de seus coordenadores, tanto para executar suas tarefas quanto para tomar atitudes enérgicas em uma sala de aula. É preciso manter sempre um ambiente de coleguismo entre os funcionários, um apoiando o outro nos seus êxitos e nos seus fracassos.

O convívio com colegas, superiores hierárquicos ou subordinados, que são fontes constantes de atrito, pode transformar a atividade laboral desprovida de significado, sem apoio e sem reconhecimento, o que se constitui uma ameaça à integridade física e/ou mental.[1]

Parece simples, mas atualmente tem sido muito difícil conjugar esses fatores.

A indisciplina na escola reflete a ausência de alguns desses fatores, aliada a uma ideia generalizada de que o aluno deve ter mais liberdade e que o professor e a escola têm limitado o uso de sua autoridade. Ora, disciplina em ambiente escolar é uma necessidade para que o trabalho possa transcorrer sem problemas. Dar limites não é tirar a liberdade, é ensinar a respeitar o outro. 

O barulho, ou ruído, na sala de aula é um dos fatores que interfere diretamente tanto no aprendizado, quanto na saúde do professor, que geralmente precisa falar alto e acaba ainda comprometendo sua audição.

O ruído é um fator ambiental que tem uma interferência elevada na qualidade de ensino em sala de aula. Diversos estudos de monitorização dos níveis de ruído em sala de aula têm sido realizados e, geralmente, os resultados apresentados estão acima dos limites estabelecidos pelas normas de referência.

A docência se realiza, normalmente, em condições nem sempre satisfatórias quanto à acústica. A presença de ruídos internos e externos à sala de aula interferem no desenvolvimento das atividades em sala de aula.[2]

Como um professor pode dar uma boa aula se a turma não consegue parar de conversar? A disciplina na sala de aula não é uma responsabilidade exclusiva do professor. A escola possuí regras e elas devem ser obedecidas. Cabe a todos os funcionário ajudem na disciplina. Cabe ao aluno entender que os diversos ambientes sociais exigem comportamentos específicos. É uma exigência da própria sociedade, um ensinamento para a vida.

Na escola o aluno pode e deve ser participativo, o que não pode é transformar a sala de aula numa área de lazer onde o professor tem que falar mais alta para ser ouvido. A sala de aula é um ambiente de trabalho que não combina com poluição sonora. Por outro lado, o docente submetido a esse tipo de estresse e diariamente corre o risco de desenvolver doenças e vícios. Ao final da sua carreira ele vai ter que lidar com as sequelas de anos de trabalho antes de poder aproveitar a aposentadoria.

Por meio de registros da literatura, as doenças consideradas de prevalência em professores são referentes ao aparelho respiratório (principalmente referente a órgãos da fonação), doenças englobadas sob a denominação por lesões por esforços repetitivos e distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho (LER/DORT), varizes de membros inferiores e distúrbios psíquicos.[3]

E essas são apenas algumas. Já presencie casos de professores que desenvolver os problemas como aumento da pressão arterial e do nível de glicose, mediante ao estresse diário e doenças gastrointestinais, por exemplo. Cuidar do profissional da educação é tão importante quanto o ato de ensinar.

E não vamos esquecer algo que talvez seja mais grave: o assédio moral. Pois é, todos aqueles que trabalham com educação já passaram por uma situação em que forma humilhados por colegas ou por superiores. Não é nada agradável, principalmente quando você cumpre com seu dever. Algumas pessoas parecem achar que tem o direito de menosprezar outras. Esse tipo de coisa tem um impacto tão negativo quanto o uso excessivo da voz ou o estresse causado pela indisciplina na sala de aula além de, claro, não ser ético.

Estamos ficando sem professores, porque ser professor está se tornando um cada vez mais um trabalho de risco, resultado da má qualidade do ambiente de trabalho. E ainda há o custo para os cofres públicos e privados: professores têm tirado licenças de saúde e se afastado o exercício do magistério, obrigando a contração de outros profissionais, onerando as folhas de pagamento. Não Há lógica que explique o descaso com o problema.





[1] Monteiro, Janine Kieling e outros. Professores no limite: o estresse no trabalho do ensino privado no Rio Grande do Sul. - Porto Alegre: Carta editora, 2012, p. 14.
[2] FARIAS, Patrícia Marins. As condições do ambiente de trabalho do professor: avaliação de uma escola municipal de Salvador – Bahia. Salvador, 2009, p. 21. Dissertação de Mestrado, Disponível em: http://www.sat.ufba.br/site/db/dissertacoes/872009120742.pdf, acesso em 20/07/2014.
[3] FARIAS, Patrícia Marins. As condições do ambiente de trabalho do professor: avaliação de uma escola municipal de Salvador – Bahia. Salvador, 2009, p. 01. Dissertação de Mestrado, Disponível em: http://www.sat.ufba.br/site/db/dissertacoes/872009120742.pdf, acesso em 20/07/2014.

domingo, 13 de julho de 2014

HISTÓRIA EM QUADRINHOS E HISTÓRIA POLÍTICA


Sobre o ministrante do minicurso: 

Pesquisador de Histórias em quadrinhos como fonte para a Pesquisa e o Ensino de História, com Mestrado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), na linha de pesquisa "História e Culturas Políticas" (2011). Licenciado em História pela mesma instituição federal (2007). Pesquisador do Grupo de Estudo e Trabalho História e Linguagem (GETHL), coordenado pelo Prof. Luiz Arnaut (História/UFMG). Além do interesse pelo estudo das Histórias em quadrinhos, desenvolve pesquisas dentro dos campos da História Política e da História Ambiental. Nesta última área, tem dedicado sua atenção aos vínculos do Anarquismo com o ativismo em defesa dos direitos dos Animais. Ministrante do Curso de Extensão "Quadrinhos, Linguagem e História", desenvolvido em parceria com a Gerência de Pesquisa e Extensão da Fundação Clóvis Salgado, desde o mês de junho de 2013. Atualmente é Professor Substituto do Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino/Faculdade de Educação da UFMG, responsável pela área de Ensino de História. Vice-coordenador do Centro de Memória da Faculdade de Odontologia da UFMG desde 2014. Atua paralelamente como educador patrimonial

Saiba mais sobre o Prof. Márcio dos Santos Rodrigues assistindo o vídeo abaixo.

sexta-feira, 11 de julho de 2014

AS HEROÍNAS E SUPER-HEROÍNAS DOS QUADRINHOS E A LUTA PELA LIBERDADE DURANTE A II GUERRA MUNDIAL

Miss Victory (criada em 1941)


Vou apresentar uma comunicação no II Fórum de Pesquisadores em Arte Sequencial, que vai acontecer 10 a 12 de setembro de 2014, nas Faculdades EST,em São Leopoldo (RS). Vou falar sobre as Victory Girls, as heroínas e super-heroínas dos comics da década de 1940 que vestiram, figurativamente, a Bandeira dos Estados Unidos.  Seguem o tem e o resumo da minha apresentação, que é parte integrante da minha dissertação de mestrado, que devo defender em março de 2014 (não me deixam defender antes, snif).

AS MULHERES E A II GUERRA MUNDIAL: AS HEROÍNAS E SUPER-HEROÍNAS DOS QUADRINHOS E A LUTA PELA LIBERDADE

Resumo: Durante os anos de 1940 e 1945 surgiram nos Estados Unidos personagens femininas nas histórias em quadrinhos que se dispuseram a enfrentar a grande ameaça à liberdade, representada pelo Eixo. Essas personagem, algumas agraciadas com superpoderes, outras munidas apenas da sua coragem, serviram de inspiração para jovens norte-americanos, de ambos os sexos, e para os soldados no front. Elas são representações do ideal da mulher forte e patriota norte-americana, convocada para participar do esforço de guerra, tanto na ficção quanto na vida real. No presente texto nos propomos a identificar algumas dessas representações e a analisar a forma como a sociedade norte-americana abre caminho para emancipação feminina mas, ao mesmo tempo, ainda busca manter as antigas relações de gênero.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

AS MULHERES, OS QUADRINHOS E A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

Sun Girl - 1948
Há mais ou menos uns três anos eu comecei a pesquisar as mulheres nos quadrinhos da década de 1940, nos EUA. Obviamente, eu esperava encontrar referências à II Guerra Mundial. À medida em que fui me aprofundando (e olhe que eu ainda não me aprofundei o suficiente), fui descobrindo um material muito abundante, tão abundante que estou sempre me surpreendendo com a extensão da produção de quadrinhos tanto com temas de guerra, quanto com a presença feminina. 
Miss Espionage - 1944
A princípio eu me concentrei nas personagens criadas por mulheres, mas nunca descartei as demais produções, até porque a indústria dos quadrinhos era majoritariamente formada por homens. E isso foi muito bom, de duas formas. Primeiro eu pude perceber que as coisas não são tão preto e branco como muitas pesquisadoras e pesquisadores pintam. 

Há uma grande área cinza presente na forma como as mulheres são representadas, das heroínas às simples coadjuvantes. Se, por um lado, temos homens com uma visão machista e sexista das mulheres de outro há mulheres que reproduzem a mesma visão. O machismo não é exclusivamente masculino, nem seu oposto. 

Um segundo ponto é que homens e mulheres, independentemente da visão de mundo que possuem, acabam chegando a um acordo. Eles contam a história de uma forma muito parecida, reproduzem estereótipos e, em certos momentos, chegam às mesmas conclusões. Em maior ou menor grau a ideologia antinazista e o discurso em defesa da liberdade é um ponto comum, um ponto de união. 

Miss America - 1944
A década de 1940 aproxima homens e mulheres que não podem ser resumidos a uma visão simplificada de gênero. As relações de gênero desse período em especial são marcadas pela mesma diversidade que caracteriza os quadrinhos e seus personagens.

E isso é bacana! 

Procurar entender essa diversidade ajuda construir uma História das Mulheres que não vai excluir os homens, mas que vai compor um quadro mais amplo da participação feminina na História. Os quadrinhos são uma ferramenta para atingir esse objetivo. 

Dessa forma, quando estudo personagens femininas ou as cartunistas que tiveram destaque nesse ou outro momento da História não estou fazendo isso por mera curiosidade ou estou sendo exótica: estou fazendo História, História das Mulheres usando uma fonte legítima de pesquisa que vai me ajudar a entender desde as relações de força até as ideologias presentes no pensamento contemporâneo.



domingo, 6 de julho de 2014

LANÇAMENTO DE LIVRO: DESAFIOS DO RECOMEÇO


SÉRIES DE FANTASIA: INSTRUMENTOS MORTAIS E PEÇAS INFERNAIS


Aproveitei as minhas pseudoférias (porque quem me conhece sabe que eu não consigo realmente ficar parada em casa sem inventar alguma coisa pra fazer) para organizar meu material de trabalho, escrever textos para o blog da minha orientadora (visitem o História Hoje, tem ótimos textos diariamente), entre outras coisas. Aproveitei, também, para ler alguns livros de ficção, porque eu mereço um pouco de lazer, né.

Dentre os livros lidos (falarei de outros em outras postagens) eu encerrei a série "Instrumentos Mortais", de Cassandra Clare. Eu confesso que há cerca de um ano atrás eu não conhecia a autora. Já tinha visto seus livros dispostos na livraria da Rodoviária Novo Rio, mas não me chamaram atenção. 

Numa conversa rápida, que eu nem sei como começou, uma ex-aluna, Barbara Pontes, me indicou a série para ler. Eu falei que ia pensar. Então, em setembro do ano passado, eu estava em uma péssima fase. Cansada por conta das viagens semanais para Niterói, onde faço mestrado e lendo muito material denso. Além disso eu estava lidando com turmas muito difíceis na escola e isso estava me desgastando.

Um belo dia, desanimada e rodando pela livraria da rodoviária peguei o primeiro livro da série, "Cidade dos Ossos" e, num ato de rebeldia, comprei e comecei a ler. Foi um balsamo na minha vida e um injeção de ânimo daquelas que vem na hora certa. Li avidamente, como há muito tempo eu não lia. 


Sem exageros, eu simplesmente comprei e li oito livros da autora em praticamente 40 dias. E a leitura não me atrapalhou os estudos, pelo contrário, minha mente ficou mais receptiva. Alternava a leitura dos livros da Cassandra com minhas tarefas do mestrado e tirei nota máxima com o professor mais exigente do curso. Enfim, eu me tornei uma devota da autora.

Gosto de coisas criativas. Acho que nada é mais criativo do que um livro que consegue prender o leitor e fazer com que ele procure soluções para enigmas, querendo antecipar o que o autor reserva para seus personagens, independentemente do estilo do livro (romance, ficção científica, fantasia, etc.). Gosto porque esse tipo de literatura deixa a mente afiada e torna o dia a dia mais fácil. Cassandra Clare fez isso comigo, num momento que eu precisava (e olhe que quem lhes fala é uma mulher de meia idade).

Gosto do jeito que ela escreve, da forma como envolve os personagens e da forma como introduz citações de clássicos da literatura em meio a aventuras de adolescentes (que algumas vezes parecem mais maduros do que os personagens adultos). Até viciei alguns ex-alunos na série. 

Tenho alguns amigos que caçoam de mim: isso é livro que se leia? Vá ler algo "melhor" no seu tempo livre. Sobre isso me veio à memória um livro que li há muitos anos atrás, cujo título eu acho que era "O que é arte". No livro o autor  diz ia que quem decide se uma obra é boa ou ruim é o observador. As diversas formas da arte, os diversos gêneros artísticos, afetam as pessoas de diferentes formas. Por exemplo, eu adoro a obra do espanhol Joan Miró, mas não me pergunte detalhes sobre o estilo das pinturas dele, porque eu não vou saber responder. Eu simplesmente gosto. Assim foi com os livros da Cassandra Clare. 

Joan Miró - "Femmes et oiseau dans la nuit"

E voltando aos livros, sem querer tirar a surpresa de quem ainda não leu, o que eu posso adiantar sobre eles é o seguinte: são fluidos e ao mesmo tempo são densos; fazem a gente mergulhar num universo de fantasia que nos deixa encantados, curiosos e ansiosos para saber mais. Eu particularmente gosto da relação que ela cria entre os personagens, que erram, acertam, erram de novo, não são perfeitos e são cheios de dúvidas e inseguranças.

O primeiro livro de Instrumentos Mortais é quase introdutório e se por um lado responde a algumas perguntas, por outro deixa muitos questionamentos em aberto. O segundo livro, "Cidade de Cinzas" é um dos meus preferidos, apresenta novos personagens e traz mudanças radicais à trama. Em "Cidade de Vidro", que fecha todo um arco de histórias, a gente tem muitas respostas, passa por momentos de ansiedade e nervosismo e emoção. O final deixa um gancho para uma sequência, que vai ser "Cidade dos Anjos Caídos". Uma nova trama, e mais três livros, cujo último, "Cidade do Fogo Celestial" foi lançado final do mês passado.


Entre um arco de histórias e outro, Cassandra escreveu a trilogia "Peças Infernais". Também muito boa, envolvendo alguns personagens conhecidos de Instrumentos Mortais, mas ocorrendo em outra época: final do século XIX. É uma série de ação e fantasia mas que fala muito de amor. Não apenas daquele amor romântico que a gente está cansado de ver, mas de um amor que é quase espiritual, da força de uma amizade que pode superar todas as dificuldades. O último livro, "A Princesa Mecânica" é arrebatador. Uma dica: para entender e aproveitar melhor a segunda trama de Instrumentos Mortais, leia primeiro Peças Infernais. 


Cassandra Clare encerrou este ano Instrumentos Mortais mas já introduziu no último livro os personagens que vão fazer parte da série nova que lança em 2015, "Os artifícios das Trevas” (The Dark Artifices) e abriu a possibilidade para a participação de outros personagens, que já são conhecidos das séries anteriores.

Por fim, fica uma declaração de fã: o que ela escrever eu vou ler. Vou ler Chartier, Boudieur, Le Goff e outros atores teóricos, também, claro. Mas não vou abrir mão de um bom livro de ficção e agradeço imensamente à primeira alma criativa que descobriu que inventar histórias poderia ser uma forma de libertar o espírito das pressões da vida diária.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

CAPA DO LIVRO "FRAGMENTOS DA HISTÓRIA: O LEOPOLDINENSE - 1881"

Ficou pronta hoje a capa do nosso livrinho. Cortesia do amigo Cristiano Fófano. Confira!




O livro é resultado de uma atividade escolar desenvolvida com os alunos do oitavo ano do Colégio Imaculada Conceição, de Leopoldina (MG) e tem a participação de historiadoras renomadas. Nele são analisados vários fragmentos de notícias publicados no Jornal O Leopoldinense, do ano e 1881. 

Trata-se basicamente de um trabalho de História social onde foram selecionados 20 pesquisas realizadas pelos alunos a partir da leitura do jornal de de pesquisa em textos publicados na internet. Ele estará disponível, em breve em versão digital e (se conseguirmos patrocinadores) impressa.