terça-feira, 30 de setembro de 2014

OFICINA DE FANZINES - CENTENÁRIO DA MORTE DE AUGUSTO DOS ANJOS


Os fanzines são uma forma de comunicação visual que vem crescido no Brasil. São revistas com quadrinhos, poesia, ilustrações autorais, feitas por pessoas comuns para expressa o que sente, o que gosta, fazer criticas, enfim, libertar a criatividade. Os fanzines são, portanto uma forma de expressão.  Participe da Oficina de Fanzine, e liberte sua criatividade!

Mais informações, na Secretaria Municipal de Cultura, no Museu "Espaço dos Anjos".

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

ACADEMIA LEOPOLDINENSE DE LETRAS E ARTES DISPONIBILIZA LIVRO SOBRE A HISTÓRIA DE LEOPOLDINA

A Academia Leopoldinense de Letras e Artes disponibilizou em seu site o livro "Leopoldina e seus primórdios", publicado em 1943 por Barroso Júnior.

João Barroso Pereira Júnior é natural de Queluz, SP. Mudou-se para Leopoldina no início do século XX. Foi um dos sócios fundadores do Grêmio Lítero-Artístico Augusto dos Anjos, em 1925 e Diretor da Biblioteca Municipal. Realizou várias pesquisas sobre a história de Leopoldina no que resultou no livro supracitado. Livro, aliás, considerado um dos melhores trabalhos sobre a historiografia local, segundo a pesquisadora Nilza Cantoni,

Para ter acesso ao livro, digitalizado, basta clicar aqui!

OFICIAIS DE JUSTIÇA FAZEM "OPERAÇÃO TARTARUGA" EM LEOPOLDINA NO INÍCIO DO SÉCULO XX

Encontrei no periódico leopoldinense, A Gazeta de Leopoldina, uma nota sobre um crime cometido no município. Pode parecer mórbido, mas gosto de ler esses casos de violência que são rapidamente relatados nos jornais de época. Eles dizem muito sobre o que acontece com as camadas populares. Infelizmente, é nesses momentos que elas ganham visibilidade nos jornais. 

Na primeira página do jornal, do dia 28 de outubro de 1909, estava uma nota com o título "Facto Grave". A nota começa falando sobre um crime, o assassinato de uma mulher, ocorrido em Santa Izabel. O criminoso foi preso em flagrante, mas estava a ponto de ser colocado em liberdade, pois quinze dias após sua prisão ainda não tinha sido aberto o processo judicial. Motivo: os oficiais de justiça estavam de braços cruzados. 

Veja um trecho da matéria publicada no jornal.

"(...) fomos informados, alguns officiais de justiça, com grande despreso às leis e grave desrespeito ao juiz municipal, allegando motivos futeis, teem-se recusado ao cumprimento dos mandatos expedidos para intimação das testemunhas, dando isso logar a que findo o praso legal para ser formado o processo - o que está prestes a acontecer - seja requerido o habeas corpus em favor do criminoso."
Gazeta de Leopoldina, 28 de outubro  de 1909, n, 57, p.01

O redator termina apelando às autoridades para que a justiça seja cumprida e que casos como esse não permitam que os réus de crimes graves fiquem sem punição.

Essa pequena nota traz consigo algumas informações que ajudam a entender como funcionavam algumas repartições e as dificuldades encontras pelo poder público. Oficias de justiça se recusando a intimar testemunhas. Poderia haver várias razões para esse comportamento. Poderia ser, por exemplo, uma forma de protesto ou mesmo ineficiência desses servidores, que estaria ocupando os cargos por indicação política e não via por isso necessidade de se esforçar para cumprir tarefas. São suposições, claro. Hipóteses que podem ser ou mão comprovadas. Mas fato é que a morosidade da justiça já era um problema desde àquela época. 

Outro detalhe é que se trata de um crime contra a mulher. A violência contra a mulher era eventualmente denunciada nos jornais. Assassinatos e estupros eram os crimes mais frequentes. Pequenos detalhes contidos em narrativas de jornais antigos nos levam a questionar a história local e a abrir novas possibilidades de estudo e de pesquisa. Uma nota sobre um crime, a reclamação acerca da morosidade da justiça. Esses são pequenos fragmentos que podem contribuir para a construção de uma história do cotidiano e das instituições que ultrapassem os tênues limites da especulação. 

Leia o trecho do jornal na íntegra:



sexta-feira, 26 de setembro de 2014

COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO DA MORTE DE AUGUSTO DOS ANJOS EM LEOPOLDINA


Aos colegas que trabalham com literatura, história, sociologia, teologia, enfim, a todos aqueles que desenvolvem pesquisas, estão abertas vagas para comunicações durante as Comemorações do Centenário da Morte de Augusto dos Anjos. 

Confira!!!

Mary del Priore no programa do Jô Soares

Essa madrugada a historiadora e escritora (e minha orientadora), Mary del Priore  foi ao programa do Jô Soares falar sobre o seu novo livro, "Do outro lado". O livro fala da fascinação pelo ocultismo e da chegada do espiritismo no Brasil, no século XIX. 

Não é um livro espírita, é bom deixar claro, é um livro sobre o sobrenatural, crenças e práticas sociais e religiosas que vão se desenvolvendo à medida que o ser humano, em seu todo, e o brasileiro, em particular, busca por um mundo melhor, um mundo que parece estar voltado para o futuro, mas que vê no passado, nos mortos a chave para o sucesso.

Vale a pena assistir a entrevista, clicando aqui!

A ESCOLHA DA PROFISSÃO: ESCOLHA OU IMPOSIÇÃO?


Hoje acordei com esta pergunta na minha mente. Ela é resultado de uma conversa que tive com uma amiga, já há algum tempo, que comentou desgostosa que a escola não incentivava o aluno a seguir uma vocação mas sim ter uma profissão lucrativa. Ela tem uma filha que deseja seguir carreira na área de humanas porque gosta, porque sente prazer, motivação. A menina é muito inteligente e decidida. Sabe realmente o que quer.

O que acontece é que a escola desmotiva esse tipo de escolha, e sem muita descrição. Quando ela declarou a um professor sua vontade em fazer uma faculdade de letras, na presença da mãe, ele disse que ela era inteligente, deveria tentar algo que desse dinheiro, como medicina e engenharia.

Inicialmente, o que me decepcionou no episódio foi o professor deixar claro que na área de humanas estão os menos inteligentes ou menos competentes. Em segundo lugar, desprezar a escolha da menina porque “assim ela não vai ganhar dinheiro”, logo, não vai se realizar financeiramente. O investimento que os pais dela estão fazendo na sua educação seria, portanto, um desperdício. 

Ora, em pleno século XXI a escolha da profissão ainda é uma imposição social e econômica?

Se este é o caso, eu lamento muito pelos nossos jovens médicos e engenheiros, que cursaram faculdades a contragosto, seja para agradar as famílias, seja para satisfazer o desejo de ascensão econômica  que a sociedade incentiva. Lamento ainda mais pelos clientes, que serão atendidos por médicos desgostosos do que fazem e por engenheiros que não se importam com o resultado final dos seus projetos. Sem falar, claro, que esses profissionais abriram mão de serem bons profissionais em atividades que realmente lhes dariam satisfação, para alimentarem o desejo dos pais, transferido para eles, de ascensão.

E não vou culpar os pais exclusivamente pela escolha dos filhos. A escola tem uma parte enorme de responsabilidade nisso. Ela é formadora de opinião. O que dizer de um professor que diz em voz alta que não quer que seus filhos sejam professores e que aconselha aos alunos buscar algo "que dê dinheiro"? Eu já ouvi muito isso.

Não vou negar aqui a necessidade que todos temos de ter um alicerce econômico. De ter dinheiro para pagar as contas final do mês. Eu estaria sendo hipócrita. Mas estou pensando nas consequências que trazem uma escolha importante como essa, a escolha da futura profissão. Toda profissão é boa. Todo profissional deve procurar fazer aquilo que em aptidão. Enriquecer pode ser uma consequência da dedicação e só se dedica quem gosta do que faz.

E do que adianta ter bens materiais sem a satisfação pessoal? Eu nunca me arrependi de ter optado pelo magistério. É lógico eu gostaria de ter um salário melhor, condições de trabalho melhores e poder trabalhar menos para poder me dedicar mais. Eu tenho dias bons e ruins. Mas não imagino, nem quero me imaginar, sendo outra coisa, fazendo outra coisa.

A sociedade consumista e materialista está criando pessoas insensíveis, autômatos, que cumprem com sua obrigação e não conhecem satisfação. Que chegam em casa sem um sorriso para dar ao filho, porque seu trabalho é chato e estressante, e que compensa essa apatia com presentes. Que forjam relações onde o fator econômico sobressai sobre o humano.

Enfim, não sei se consegui expressar corretamente a minha inquietação, nem sei se ela é realmente procedente. Mas como pessoa e profissional eu sempre vou respeitar as opções dos meus alunos e espero que eles possam fazer o curso que realmente querem. E se não quiserem ingressar em um curso superior, que possam ter uma profissão que lhes traga satisfação. Afinal, chegar em casa cansando, mas satisfeito faz a vida de todo mundo ser melhor.

Vou finalizar com um exemplo que sempre me inspirou. Meu avô, que eu perdi quando tinha quinze anos era pedreiro. Trabalha o dia todo, debaixo do sol. Construiu sua casa e a casa dos filhos. Era um bom marido, um bom pai e um excelente avô. Ele saía cedo para trabalhar, voltava cansado, mas nunca chegou em casa com algo mais do que um sorriso no rosto. Nunca reclamou da profissão que tinha e sempre respeitou as escolhas dos filhos. Meu avô era um homem humilde, mas eu tenho certeza que era um homem feliz e realizado.

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

ESCOLA PARTICULAR NÃO É APENAS PRIVILÉGIO DA ELITE


Escola particular não é privilégio apenas da elite, e isso não é uma bravata, é um fato. Venho notando, já há algum tempo, que a clientela das escolas tradicionalmente reservadas a alunos da classe média alta estão recebendo cada vez mais um número maior de alunos cujos pais possuem profissões simples, como balconista, motorista pequeno agricultor, professor, vendedor, etc. Foi-se o tempo em que as escolas particulares eram espaço de dominação das elites.

Filhos de trabalhadores assalariados em escolas particulares não é necessariamente uma novidade, pois desde finais do século XIX muitas escolas recebiam subsídios para oferecerem bolsas para alunos com poucos recursos. Mas o caso agora nem é esse. Não há bolsas integrais, embora exista a possibilidade de se conseguir descontos. Pais assalariados estão custeando a educação de seus filhos, abrindo mão do ensino público gratuito. 

Refletindo sobre o assunto eu não consegui deixar de relacionar essa demanda pela educação paga com o conceito de Capital Cultural de Pierre Bourdieu. Para o sociólogo o investimento na educação dos filhos, empreendido pela burguesia no século XIX, era uma forma de distinção social,  de diferencial tão poderoso quanto o capital econômico.  Era a burguesia conquistando espaço social,  formando uma elite que ditaria as regras em uma sociedade cada vez mais capitalizada. Formava-se uma elite intelectual alinhada com os interesses econômicos burgueses.

O que temos atualmente é um movimento muito semelhante, quando as famílias de classe média e classe média baixa investem na educação dos filhos também como forma de distinção, mas tendo em vista ainda ascensão econômica. É a formação de uma nova elite, vinda de grupos que até então davam preferência à escola pública e gratuita.

Tal fato me leva a desconfiar de duas coisas. A primeira é que os pais estão investindo mais no futuro dos filhos (através do capital cultural), querendo uma educação melhor, um ambiente mais seletivo. A segunda é que existe uma falta de confiança da população na educação pública. 

É sabido que o sistema educacional do nosso país está precário. Por mais que os políticos gritem nos palanques:

- Minha prioridade é a educação!

- No meu governo eu transformei a educação do meu Estado na melhor do Brasil!

É balela! Como professora eu sei que a educação vai muito mal, em todos os sentidos. Sei também que há escolas boas e más, independentemente de serem públicas ou privadas. Uma série de fatores irá determinar a qualidade do ensino em uma escola. Eu, particularmente, gostaria de ter uma escola onde pudesse, durante as minhas aulas, alternar teoria e prática, ensinar história por meio da pesquisa.

Mas o sistema determina que temos que dar notas e que notas só podem se obtidas por provas. Mas prova não tem provado nada. Na verdade, tem provado sim, que o estudante consegue nota mas não tem conhecimento; que o estudante não tem nota e não tem oportunidade de desenvolver as tais habilidades das quais tanto se fala, porque está preso e um sistema que não impulsiona, mas que ancora o conhecimento a um saber pré-estabelecido, pré-fabricado. 

Não estou dizendo que se deva facilitar as coisas. Pelo contrário. Acho que estamos é fazendo isso, e demais, e perpetuando um sistema pseudo-inclusivo que cria profissionais com dificuldade em desenvolverem sua autonomia, de serem criativo e empreendedores.

Os pais buscam uma escola melhor, mas não aceitam o fracasso dos filhos. Estranho como uma sociedade que estimula o fracasso ao mascarar a realidade do sistema de ensino, tem tanto medo de que ele seja exposto. A reprovação parece um bicho de sete cabeças, uma coisa hedionda. Eu já vi casos em que a reprovação foi necessária e que o aluno pôde amadurecer e conquistar o êxito sem que ninguém "ajudasse", se erguendo e caminhando com as próprias pernas. 

Porque a vida é assim! 

A gente cai e levanta. Mas se não dermos a oportunidade à criança e ao adolescente de aprender com os erros, estamos formando gerações inaptas, incapazes de enfrentarem seus problemas, de agirem como adultos responsáveis. Daí, não importa de a escola é pública ou privada, o resultado vai ser igualmente decepcionante.

domingo, 21 de setembro de 2014

COMO PREPARAR UMA APRESENTAÇÃO DE SLIDES PARA COMUNICAÇÃO DE PESQUISA

Ontem uma grande amiga me pediu algumas dicas sobre como montar uma apresentação de trabalho (no caso dela para a apresentação de um TCC) para a banca do curso de pós-graduação que ela está finalizando. 

Quando eu fiz a minha apresentação e TCC foi tudo muito informal. Claro, foi em 1997, naquela época não se utilizava projetor de slides. Tive dez minutos para falar ao resto da minha turma de pós-graduação (especialização) qual tinha sido minha pesquisa. Na faculdade, durante a graduação,  nem havia banca. Nós fazíamos uma monografia muito simples e entregávamos ao professor.

Passei  a ela o roteiro que eu geralmente uso quando apresento uma comunicação, o mesmo que eu fiz quando fiz minha qualificação no mestrado (embora nela não tenha usado o recurso do slide). Hoje acordei pensando nisso. Ao invés de apenas falar eu deveria ter escrito  um roteiro. Então, resolvi fazer esta postagem pois imagino que outras pessoas possam ter a mesma necessidade. Além disso, muitas coisas a gente vai aprendendo com erro e acerto, com a experiência, e nem sempre encontra certas dicas em livros de metodologia.

Então, vamos lá. 99% das apresentações que eu faço, sejam em palestras ou comunicações para congresso, são usando slides e sequem os seguintes passos:

1. No primeiro slide (capa) eu coloco o título da minha apresentação e a minha identificação (meu nome, a instituição que eu represento e meu e-mail)
2. Faço uma breve apresentação do meu trabalho, para que a pessoa que esteja me assistindo saiba do que se trata.
3. Digo meus objetivos
4. Cito meu quadro teórico
5. Apresento minha hipótese
6. Falo da metodologia (o passo a passo da minha pesquisa,o material que usei, etc) que utilizei durante a pesquisa (isso nem sempre precisa estar no slide, mas é sempre bom que você esclareça).
7. Faço uma explanação sobre o trabalho em seu todo e finalizo apresentando uma conclusão.

Quando eu faço slides para serem usados em oficinas e minicursos, costumo acrescentar uma bibliografia básica, no final. Quando é uma apresentação em congresso, de comunicação, eu nem sempre faço isso (e estou errada) porque o tempo é tão curto que as pessoas não vai ter nem como ver as minhas referências bibliográficas. Sem falar que geralmente ela costuma ser longa e não fica muito legível para quem está assistindo. Ademais, depois o texto do ficará disponível nos anais e quem quiser pode consultar. Acabo encerrando na conclusão. Mas é recomendável citar, pelo menos, os principais autores que você utilizou na sua pesquisa.

Tudo bem simples, sem muito enrolação, porque além de ter pouco tempo eu preciso me focar naquilo que as pessoas que estão me assistindo precisam saber. 

Com relação à quantidade de slides, use no máximo doze, se sua apresentação for de vinte minutos. Eu às vezes uso um pouco mais porque trabalho com imagens e elas precisam estar presentes, sendo que muitas vezes prevalecem sobre o texto. Mas é meu caso em particular. 

Vou colocar como exemplo a última apresentação que fiz, para o II Encontro de Pesquisadores em Arte Sequencial ( e que me salvou, porque no dia da apresentação eu estava sentindo fortes dores de coluna, tomei analgésicos e estava me sentindo sem forças. Se não fosse a apresentação, e o roteiro que preparei pra ela, minha comunicação teria sido pior do que foi).



Outra coisa, a apresentação de slides não tem que ter TUDO que você vai falar. Ela é uma guia, uma forma de prender a atenção de quem está assistindo e de você se orientar na hora de apresentar. Não precisa ficar lendo o que está escrito nela e não deve ficar limitado também ao texto dela também. A verdadeira fonte de informação é você. O slide é apenas um roteiro que você preparar para poder apresentar sua pesquisa de forma mais organizada e eficiente.

Algumas pessoas gostam de treinar, de cronometrar o tempo que vai gastar e escolher o que vai falar. Isso varia de pessoa para pessoa.



FRAGMENTOS DA HISTÓRIA LEOPOLDINESE: ILUMINAÇÃO PÚBLICA NO FINAL DO SÉCULO XIX

Lampião de azeite ou olho de baleia  - Luzes contra a Criminalidade na cidade Imperial. Disponível em http://zip.net/bspCRn, acesso em: 20 de set. de 2014.
Cada vez que analiso jornais antigos, mesmo que por uma segunda ou terceira vez, alguma coisa sempre chama a minha atenção. Hoje foi uma pequena nota do jornal O Leopoldinense, de 1881, que critica a desobediência de normas estabelecidas pelas posturas municipais da cidade de Leopoldina (MG). A Nota em questão, cita o fato dos moradores deixarem animais de grande porte soltos pelas ruas da cidade "pastando tranquilamente".

Ao que parece existia fiscalização, por parte de um fiscal, identificado como sendo José Marciliano, mas que o mesmo não tinha poder de reprimir essa prática. Tal fato nos leva a supor que havia limitações sobre a aplicação dos regulamentos locais, talvez por ser uma cidade pequena, talvez por falta de instrumentos legais eficientes ou mesmo empenho das autoridades em fazer cumprir as posturas.

Por outro lado, as mesma nota nos traz um bônus, que é a possibilidade ter uma descrição da cidade de Leopoldina no final do século XIX. Além de sabermos que havia pelas ruas  um número significativo de animais soltos, o trecho ainda descreve a cidade ao cair da penumbra:

"Durante a noite as trevas dominam toda a cidade; os transeuntes munem-se de lanternas para transitar por ella. Quem do alto de S. Sebastião, a essa hora contempla a arca da cidade, julga assistir em Roma o sahimento da procissão de S. Pedro."

O jornal cobra da Câmara a solução de dois problemas: a presença de animais de grande porte nas ruas e a questão da iluminação pública, pois uma vez que caia a escuridão, a população de fechava em suas casas. A necessidade de lanternas aponta para a ausência ou insuficiência de lampiões nas ruas, que na época já eram utilizados nas cidades brasileiras. A noite não era um espaço de socialização para as famílias e a falta de iluminação era uma ameaça à segurança pública, seja nas grandes ou pequenas cidades.

Veja abaixo o texto, na sua íntegra.

O Leopoldinense: Folha Commercial Agricola e Noticiosa Dedicada a Causa Publica e Social.  Leopoldina, 21 de abril de  1881, n. 28, p. 03
No que diz respeito à iluminação pública, é bom salientar que Leopoldina, neste sentido, não destoa de outras cidades, até maiores. A iluminação pública ainda era precária em todo o Brasil.

No século XVIII por exemplo, a iluminação do Rio de Janeiro consistia em oratórios murais, onde se ascendia o candeeiro de óleo de baleia ou uma vela de cera e durava muito pouco. Em 1828, foi criada por decreto imperial, a Imperial Companhia para a Iluminação da Cidade do Rio de Janeiro, encarregada do serviço de iluminação pública e privada a gás. O que não deu certo, pois a população desconfiava da segurança do serviço. É notório destacar que o Rio de Janeiro sofria com incêndios constantemente, o que justifica a desconfiança da população.

A iluminação pública era um desafio e passava de "mão em mão", usando um expressão coloquial. Chegou até mesmo a ficar sob encargo do Ministério da Justiça, durante o II Reinado. E eram os escravos os responsáveis pelos serviços de iluminação na Corte e em tantas outras cidades, como podermos verificar no texto abaixo:

"(...) houve seguidas reformulações administrativas no serviço de iluminação: em 1831, passou a ser competência da Câmara Municipal; em 1834, retornou à Intendência Geral de Polícia; em 1842, foi transferido para o Ministério da Justiça do Império; em 1949, embora ainda sob responsabilidade do Ministério da Justiça, a iluminação pública voltaria às mãos da Polícia, que passou a utilizar para o serviço 67 escravos, supervisionados por feitores. O Rio de Janeiro contava, então, com menos de 2 mil lampiões a óleo em suas ruas e praças (1)".

Retornando ao caso Leopoldina, temos uma ainda outras reclamações com relação à questão da iluminação das ruas da cidade. Em outra nota, publicada no Leopoldinense, em 25 de janeiro do ano de 1882, temos a seguinte descrição:

"É deplorável o estado em que se encontram algumas das ruas da cidade, como sejam a Boa Vista e a Sete de Setembro, notando-se que a falta de illuminação, obriga-se os transeuntes atolarem-se nos lamaçaes e boccas de lobo nelas abundantes.

A camara deve tomar qualquer medida, attendendo que os impostos são exagerados e todos paga sem tugir ou mugir (2)." 

Outro dado aqui presente é o estado de conservação das ruas, cheios de buracos e sem calçamento. Mais uma vez exige-se providências da Câmara Municipal e, ainda, cobra-se o bom emprego dos impostos pagos pelos moradores.


Fontes utilizadas:

A CRIAÇÃO da Companhia de Iluminação a Gás. Disponível em: http://zip.net/bfpCmP, acesso em: 20 de set. de 2014.

LUZES contra a Criminalidade na cidade Imperial. Disponível em http://zip.net/bspCRn, acesso em: 20 de set. de 2014.

O LEOPOLDINESE: Folha Commercial Agricola e Noticiosa Dedicada a Causa Publica e Social.  Leopoldina, 25 de janeiro do ano de 1882, n. 28.

O LEOPOLDINESE: Folha Commercial Agricola e Noticiosa Dedicada a Causa Publica e Social.  Leopoldina, 21 de abril de  1881, n. 08.  

Notas:
(1) A criação da Companhia de Iluminação a Gás. Disponível em: http://zip.net/bfpCmP, acesso em: 20 de set. de 2014.
(2) O Leopoldinense: Folha Commercial Agricola e Noticiosa Dedicada a Causa Publica e Social.  Leopoldina, 21 de abril de  1881, n. 08, p. 02.