segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

REPRESENTAÇÕES DO FEMININO NAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

Para começar bem o ano de 2015 vem aí o lançamento do livro Representações do Feminino nas Histórias em Quadrinhos, organizado por Amaro Xavier Braga Júnior e Valeria Fernandes da Silva. 

O livro foi publicado pela EDUFAL (Editora da Universidade Federal de Alagoas) e traz, em suas 328 páginas, textos de vários autores, inclusive a contribuição de pesquisadores renomados como Nildo Viana, Sônia Luyten, dentre muitos outros. 

Há, ainda, um texto que eu escrevi originalmente em 2012 e que foi um aquecimento para o tema que, posteriormente, eu desenvolvi no meu mestrado. O  texto intitula-se II Guerra Mundial e as Super-Mulheres: o surgimento das super-heroínas nos Estados Unidos da década de 1940.

Fechei o ano com um livro lançado, começo o ano com outro. E não para por aí! Tem muitas novidades aqui no blog, sobre história, educação e arte sequencial. O ano de 2015 promete!

sábado, 17 de janeiro de 2015

QAHERA E A LUTA CONTA A MISOGINIA

Uma super-heroína muçulmana.

Em tempos onde o multiculturalismo tomou conta das histórias em quadrinhos, não é necessariamente uma novidade. A novidade é que a personagem luta contra a misoginia e foi criada por uma mulher muçulmana.

Seu nome é Qahera e ela é egípcia. Em resumo, ela usa suas habilidades especiais para lutar contra homens que acham que podem assediar mulheres. Ela carrega uma espada e tem habilidades fantásticas de luta. Seu nome significa "conquistadora" ou "vencedora".

A personagem foi criada pela cartunista Deena Mohamed, e como muitas criações de jovens artistas, tem suas aventuras publicadas na internet, na forma de webcomics. Webcomics, ou quadrinhos on-line, ou ainda web comics, são quadrinhos publicados exclusivamente na internet. É uma forma de publicação independente, muito parecida com os fanzines, que tem ganhando grande popularidade e revelado muitos jovens talentos.

A autora, Deena Mohamed, é uma jovem estudante egípcia. Sua inspiração para criar a personagem veio do desejo de desenhar uma personagem feminina forte pudesse defender outras mulheres sob ameaça de maus-tratos. 

Mohamed sempre se sentiu frustrada com a misoginia que predomina no Egito. A autora se posiciona contra qualquer intervenção externa na sociedade.  Não acha que ela precisa de um salvador "branco". Acredita que sociedade precisa se curar de práticas ultrapassadas e que as leis que defendem as mulheres precisam ser respeitadas. Que a sociedade pode se tornar mais justa, principalmente no que tange as relações entre homens e mulheres.

Qahera representa o desejo da mulher egípcia de se proteger contra a violência. Fato que pode ser facilmente compreendido quando se tem algum conhecimento sobre a realidade das mulheres naquele país. No Egito, segundo dados da ONU, de cada três mulheres, duas sofre algum tipo de violência diariamente. 

Em entrevista coletiva realizada no Cairo, a diretora no Egito da ONU Mulheres, a Entidade das Nações Unidas para a Igualdade de Gênero e o Empoderamento das Mulheres, Nihad Gohar, afirmou que a violência contra as mulheres está provocando "lesões físicas e psicológicas devastadoras em vários sentidos". Ela advertiu que esta situação reforça "a subordinação das mulheres aos homens" e contribui para o fortalecimento de normas culturais "estereotipadas" que limitam a contribuição feminina à sociedade.[1]

 O combate ao assédio sexual e misoginia através da arte é uma armas que os ativistas tem utilizado para tentar mudar a mentalidade de homens e mulheres. 

  
Qahera foi criada a partir de modelos reais, mulheres fortes que a autora conhece e convive no seu dia a dia. Suas aventuras são baseadas nas experiências pessoas da autora e das pessoas com quem convive. É uma personagem forte, nascida para dar esperança e inspirar outras mulheres.

Qahera também combate a islamofobia, fenômeno que tem aumentado muito em todo o mundo, principalmente após os últimos acontecimentos na França. As mulheres muçulmanas são duplamente vitimadas: pelo fato de serem mulheres e pela sua opção religiosa. Qahera usa um hijab para mostrar que ela não nega sua religião mas que defende maior respeito e melhor tratamento às mulheres.

Confira as aventuras de Qahera, clicando aqui!

FONTES CONSULTADAS

IT'S A Bird...It's A Plane...It's Qahera! Disponível em: http://zip.net/bmqDp0, acesso em 17 de jan. de 2015.

ONU denuncia assédio e violência sexual contra mulheres no Egito. Disponível em: http://zip.net/byqD5V, acesso em 17 de jan. de 2015.

QAHERA. Disponível em: http://qaherathesuperhero.com/, acesso em 17 de jan. de 2015.




[1] ONU denuncia assédio e violência sexual contra mulheres no Egito. Disponível em: http://zip.net/byqD5V, acesso em 17 de jan. de 2015.



PERSÉPOLIS - DE MARJANE SATRAPI


Persépolis é uma História em Quadrinhos autobiográfica  produzida pela cartunista iraniana Marjane Satrapi (Marjane Ebihamis), uma das mais prestigiadas da nova geração de desenhistas francófonas. Narjane foi primeira mulher iraniana a escrever uma história em quadrinhos.

Persepolis conta toda a sua trajetória, desde a infância até a idade adulta, quando se muda do Irã para morar na França e lá dar início a sua carreira. É uma história em quadrinhos fantástica. Fala de religião, de história, dos obstáculos que uma mulher enfrenta em um país onde a lei a a religião são opressoras. Os quadrinhos de Satrape trazem a tona os dramas pessoais da autora, assim como suas experiências e a forma como ela enfrentou os desafios que se colocam à sua frente.

Quando criança, queria ser profetiza; aos 14 anos vai morar sozinha na Áustria. Passa por todos os tipos de problemas e decepções de uma adolescente. É uma história que fala de política, de como as ideologias estiveram presentes na geração iraniana das décadas de 1970 e 1980. Persépolis, por assim dizer, é uma lição de vida. 


Marjane não é uma heroína ideal. Ela apresenta suas falhas e suas imperfeições. Em Persépolis ela abre seu coração e sua alma para o mundo. Persépolis é uma aula de história completa, sobre a Revolução Iraniana e sobre o que significa ser mulher num país dominado pelo radicalismo religioso.

Infelizmente, ela teve que pagar um preço pela sua independência. Após o sucesso da série, os quadrinhos foram transformados em um longa metragem de animação. Quando foi exibido em Cannes, na mostra de 2007, o filme foi repudiado pelo governo do Irã e Satrapi foi proibida de voltar novamente ao país. Em 2011 sua exibição por um canal de TV tunisiano provocou protestos por parte de radicais, que acusavam o filme de “blasfêmia por conter imagens em que há a representação de Deus, o que é rigorosamente proibido pela religião.


 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

II ENTRE ASPAS - EM BREVE

No final de maio do ano corrente acontecerá o II ENTRE ASPAS, encontro dos associados e associadas da ASPAS (Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial), da qual orgulhosamente faço parte. 

A sede da ASPAS fica em Leopoldina (MG). Temos uma sala para nosso uso, Casa de Leitura Lya Müller Botelho. É lá, também que realizamos nosso encontro, a cada dois anos.

No ENTRE ASPAS reunimos os associados(as), vindo de várias região do nosso país, que atualmente são em número de quarenta. Durante três dias iremos discutir e trocar informações sobre a pesquisa em arte sequencial (quadrinhos, cinema, animação) no Brasil e, também, dar início a novos projetos. Entre uma reunião e outra teremos ainda momentos culturais. 

O encontro é direcionado aos associados(as) mas pesquisadores e estudantes que quiserem participar (e que desejam conhecer nosso trabalho ou fazer parte dele futuramente), também podem se inscrever. As regras para inscrição, tanto para sócios quando para não sócios, serão divulgadas em breve, assim como uma programação geral para os três dias de encontro.

PÓS-GUERRA, BACKLASH E ESPIONAGEM: AGENTE CARTER


Pois é, nas férias eu declarei aos quatro ventos que iria ler muito e que, também, iria assistir os novos seriados (e até alguns antigos que eu deixei de lado), filmes e colocar todas as minhas impressões aqui no blog. Pois bem, ainda tenho tempo para fazer tudo isso e, garanto, não será nenhum sacrifício. Vamos então para as primeira impressões que tive do seriado que estreou nos Estados Unidos, no dia 06 de janeiro: Marvels Agent Carter. 

Trata-se de um seriado que derivou do filme do primeiro filme do filme Capitão América: O Primeiro Vingador (2011). A série narra as aventuras da agente Peggy Carter, interpretada pela atriz Hayley Atwell. 
 
Agente Peggy Carter
A série se passa no ano de 1946. Com o fim da guerra muitas mulheres estão perdendo seus postos de trabalho para os homens. A agente Carter manteve o seu, mas é tratada por seus pares como uma secretária, alguém cuja utilidade é servir café e atender o telefone. 

Uma das referências que são feitas a ela por um colega é como sendo o "contato do Capitão América", ou seja, reduzida a uma assistente que perdeu seu chefe (o Capitão América está supostamente morto). O primeiro episódio descreve com muita clareza o  BACKLASH, o retrocesso nas conquistas femininas que marcou o período pós-guerra. 

Edwin Jarvis

Vejam bem, a agente Carter não foi demitida, mas é constantemente vítima de assédio moral e lembrada da sua suposta inferioridade. Ela tem que provar que é tão capaz quanto qualquer homem e tem que fazer isso enfrentando o machismo dos colegas e da própria sociedade. Isso é muito bom! A melhor série protagonizada por uma mulher que eu me recordo de ter assistido. 

Uma descrição rápida da protagonista. Ela não é uma magricela (pelo menos não aparenta). É uma mulher comum, mas com muitas habilidades de luta, inteligente e habilidosa. Ela poderia ser a versão da Mulher Maravilha, sem poderes, sem laço da verdade ou bracelete (não que fosse fazer falta).

Haward Stark
A série ainda regata personagens como Haward Stark (pai de Tony Stark, o Homem de Ferro) e o mordomo da família Stark, Edwin Jarvis (agora em carne e osso e não apenas uma voz robótica). A caracterização da década de 1940 também está ótima. Uma série de um um universo de superaventura sem super-heróis (não que eles façam falta) e que acho que tem de tudo para fazer sucesso em 2015.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

NÃO ADIANTA: TEM QUE SABER ESCREVER


Os alunos, de uma forma geral (mas nem todos, felizmente), acham que o professor ou a professora são bons ou ruins de acordo com a nota que tiram na prova e no grau de dificuldade da matéria. Eu sei que é uma generalização, mas nos meus vinte anos de magistério, é o que eu tenho visto. Outra coisa, eles também acham que só precisam se preocupar em escrever corretamente nas aulas de língua portuguesa e ainda acham um ABSURDO que professor de outra matéria cobre uma boa redação. E pasmem: alguns pais concordam com isso!

Eu até me acho bem maleável. Eu peço uma boa redação e até deixo passar algumas palavras erradas, afinal, todo mundo erra, inclusive professor. Palavras erradas a gente sempre pode corrigir, mas saber escrever é uma questão de prática e, é claro a tal da vontade de aprender. Mas o caso é que os jovens não estão sabendo escrever e não estão se importando com isso. Deixe-me esclarecer o que eu entendo por "saber escrever". Saber escrever é: 

  • saber deixar claras as ideia, criando um texto coerente;
  • saber usar bem as palavras;
  •  ter boa concordância;
  • ter um bom vocabulário (que vai melhorando e se ampliando à medida que se lê, que se ouve o que o outro está dizendo, etc.).

O que temos hoje são alunos, principalmente adolescentes, que estudam para o momento. Decoram matéria, querem que o professor dê resumos que dispensem um estudo mais aprofundado, e lhe garanta um nota boa no boletim. Pois é, nota boa para mostrar aos pais e nenhum conhecimento adquirido para enfrentar o mundo. Sim, porque a vida não é justa e na "selva de pedra" ninguém é coitadinho. Ou sabe ou não sabe. A realidade é que  pouca gente anda querendo aprender.

E não sou eu que estou dizendo isso. Os resultados estão aí. 

"Dos 6.193.565 candidatos que fizeram o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) 2014, 529.374 participantes tiveram nota zero na redação do Enem (8,5%), segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). Apenas 250 obtiveram a nota máxima (1.000) na redação e 35.719 inscritos tiveram notas entre 901 e 999. Ao todo, 248.471 redações foram anuladas."[1]




Quase 10% de jovens tiraram zero em redação. Há quem vá dizer que é pouco. Mas vejam bem, APENAS 250 em mais de 6 milhões conseguiram nota máxima. Chega a ser indecoroso! Uma vergonha para o país e para o nosso sistema de ensino. E não venham me dizer que a culpa é do professor (sempre dizem isso) que não ensina o que o aluno precisa saber.

Infelizmente, vivemos no sistema dos "coitados". O coitado precisa ter sua nota garantida, senão a escola está falhando com ele. Ele não aprendeu, coitado, não pode ser reprovado. Acontece que os coitados são todos. Todos os alunos devem ser aprovados mesmo sem ter aprendido o necessário. São aprovados na escola e reprovados no ENEM e em tantos outros momentos em que a vida vai cobrar deles o que a escola foi impedida de oferecer: preparo.






[1] 529 mil candidatos tiraram zero na redação do Enem 2014. Disponível em: http://educacao.uol.com.br/noticias/2015/01/13/529-mil-candidatos-tiraram-zero-na-redacao-do-enem-2014.htm, acesso em 15 de jan. de 2015.