sábado, 7 de janeiro de 2017

A OLÍVIA PALITO QUE POUCA GENTE CONHECE

"Thimble Theatre" (Teatro de Dedal) foi uma série em quadrinhos criada por Elzie Segar, em 1919.  A série foi inicialmente formada por histórias curtas que ocupavam quatro a seis quadrinhos. Logo depois, com a entrada de outros personagens, as histórias acabaram ganhando continuidade. Originalmente a série girava em torno da família de Olivia Palito (Olive Oyl, cuja tradução seria Óleo de Oliva). 

Da série lançada em 1919 participavam Olívia, seu irmão Castor Oyl, personagem pequeno e malfamado, sua mãe Nana Oyl e seu pai Cole Oyl.  Olívia, na época, já tinha um namorado, Ham Gravy. O quinteto dividiu espaço nas tiras durante cerca de 10 anos. 

"Thimble Theatre" trazia histórias ao mesmo tempo cotidianas e fantásticas. Segar vai conceber um tipo diferente de história em quadrinhos, uma que não termina apenas numa tira ou página, mas que possuí continuidade. Segundo Francis Lacassin, coube a Segar criar uma história em quadrinho cotidiana com continuidade[1].

The Olive Oyl Family. Disponível em: http://www.oliveoilsource.com/article/olive-oyl-family, acesso em 23 dez. 2016.

Foi nesta série que surgiu um dos personagens mais populares dos quadrinhos e da animação: o Marinheiro Popeye. Mas ao contrário do que muitos possam pensar o marinheiro comedor de espinafre não foi um dos personagens originais da série, tendo sido introduzido apenas em 1929. O personagem fez tanto sucesso que acabou se tornando a estrela das tiras.  

Com a inclusão de Popeye, as histórias mudaram de título, passando a se chamar "Thimble Theatre: Starring Popeye the Sailor" e , em 1936, apenas como “Popeye”. Com a entrada de Popeye as tiras ganharam outro viés, voltado para o fantástico, para a fantasia. Na década de 1930 o fantástico estava em alta, como uma forma de amenizar os efeitos da crise econômica que tomou conta de boa parte do mundo capitalista.[2]

Ham Gravy foi retirado de cena em 1930 pelo marinheiro caolho: levou uma surra de Popeye. Gravy foi para o Oeste, virou vaqueiro e ocasionalmente reaparecia em histórias "solo" curtas na revista do Popeye, nas mãos de Bud Sagendorf [3]. Fez uma participação na edição especial feita em 1999, em comemoração aos 70 anos de Popeye, assinada pelo roteirista Peter. Já nas primeiras páginas da história, Ham Gravy reaparece pedindo a Olivia que desista do seu casamento com Popeye.


Popeye & Thimble Theater. Disponível em: http://greatbutforgotten.blogspot.com.br/2014/08/popeye-thimble-theater.html, acesso em: 23 dez. 2016.


Sua revista foi publicada regularmente até o início da década de 1980, depois disso, Olívia, Popeye e Blutus retornariam apenas em edições especiais. No Brasil, a Pixel publicou em 2016 uma coletânea de histórias assinadas por Bud Sagendorf, publicadas entre 1948 e 1954, “Popeye Clássico”.

Com a entrada de Popeye a série sofreu muitas mudanças, e passou a ter como personagens principais Olívia, Popeye e Blutus. Este último foi inspirado no grande comerciante barbudo dos filmes de Charles Chapim[4]. No entanto, Segar não pode aproveitar muito o sucesso de seus novos personagens. Diagnosticado com leucemia, ele morreu em 13 de outubro de 1938, aos 43 anos de idade.

Revista O Tico-Tico. Rio de Janeiro, 06 de fev. 1935, p. 11.

Após a morte de Segar em 1938, a tira foi continuada por vários roteiristas e ilustradores, o mais notório deles é Bud Sagendorf, ex-assistente de Segar. Ao final da década de 1960, Popeye havia se tornado um ícone da cultura pop, sendo publicado em mais de 25 países. Para o cinema haviam sido produzidos 220 episódios de animação e para cinema outros 234 curtas. Além disso, haviam os licenciamentos de produtos, que iam de peças de vestuário a guarda-chuvas, totalizando na época cerca de 50 milhões de dólares[5].

Olívia Palito, criada uma década antes, teve uma carreira mais longa que Popeye e se tornou uma personagem mundialmente conhecida. Na Espanha, ela é conhecida como Rosario, na França de Huile d’ Olive, na Suécia como Olivia e na Finlândia como Olga. 

Nos anos 1930 de  chegou se tornar uma estrela de rádio e em 1980 até estrelou um filme, onde foi interpretada por Shelley Duvall.[6] A personagem teria sido inspirada em "Dora Paskel", dona de um armazém  em Chester, tanto no tipo físico quando na forma de se vestir.[7] E falando em moda, Olívia possuí produtos licenciados  que fazem sucesso entre o público feminino. No mundo da cultura pop ela ainda é um produto lucrativo.

No Brasil as aventuras de Popeye e Olívia foram publicadas pela primeira vez em 1932 no Jornal Diário de Notícias[8]. Suas histórias também foram publicadas no Suplemento Juvenil, no Tico-Tico e ganhou sua primeira revista em 1939, pela EBAL (Editora Brasil Estados Unidos), de Adolfo Aizen. Na época suas eram chamadas de “Aventuras de Brocoió: o marinheiro Popeye” e Olívia chamava-se Serafina[9].
Olívia não precisava de espinafre para mostrar a Popeye quem mandava.
Apesar de ter sido reduzida à namora do protagonista da revista, Olívia sempre foi uma personagem de destaque. No triângulo amoroso com Popeye e Blutos foi ao mesmo tempo objeto de paixão e, também, uma mulher dominadora. Há quem diga que ela foi vítima constante de violência por parte de Blutos, e de outros personagens masculinos que disputavam sua atenção com Popeye. Mas ela era geniosa e impunha suas vontades sobre o marinheiro que se batia ruidosamente com valentões como Blutos, mas também recebia sua dose de pancadas por parte da namorada. Faria um belo estudo sobre violência física e simbólica.

PS: Dedico esta postagem em memória do saudoso Carlos Engemann, que sempre me dizia que um dia iria escrever um artigo sobre Olívia Palito.




[1] LACASSIN, Francis. Pour um 9ª art la bande dessinée. Paris: Union Générale d’Éditions, 1971, p. 188.
[2] PATATI, Carlos, BRAGA, Flávio. Almanaque nos Quadrinhos: 100 anos de uma mídia popular. Rio de Janeiro: Ediouro, 2006, p. 34.
[3] Informação fornecida por Pedro Bouça.
[4] LACASSIN, Francis. Pour um 9ª art la bande dessinée. Paris: Union Générale d’Éditions, 1971, p. 189.
[5] MARNY, Jaques. Le monde étonnant des bandes dessinées. Paris: Le Cebturion/Sciences Humanes, 1968, p. 16.
[6] OLIVE Oyl – History. Disponível em: http://oliveoyl.com/history/, acesso em: 23 dez. 2016.
[7] POPEYE. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Popeye, acesso em 23 dez. 2016.
[8] GONÇALO, Junior. A Guerra dos Gibis: a formação do mercado editorial brasileiro e a censura aos quadrinhos (1933-1964). - São Paulo: Companhia das Letras, 2004, p. 131.
[9] POPEYE. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Popeye, acesso em 23 dez. 2016.




4 comentários:

Ana Cláudia disse...

Maravilhoso! Nunca imaginaria que a Olívia "nasceu" tão antes do Popeye. E mesmo com ela se tornando a namorada do personagem principal, percebemos nela um poder diferente de outras personagens em papéis semelhantes. Adotei! ��

Everton Cabral disse...

Como seria a Olivia nos dias de hoje?

Everton Cabral disse...

Como seria a Olivia no dias de hoje ? caminhando para dias difíceis.

Anônimo disse...

Agora me deu vontade de assistir,com mais de 40 anos na cara kk