quinta-feira, 3 de agosto de 2017

BIOGRAFIAS EM QUADRINHOS - ANÁLIA FRANCO

Já há algum tempo eu estou para ler a analisar uma publicação em quadrinhos sobre a obra e vida de Anália Franco. É um quadrinho biográfico que fala de dois episódios da vida desta mulher, nascida na cidade de Resende no dia 19 de fevereiro de 1856 e falecida em 20 de Janeiro de 1919.

Anália foi professora, jornalista, poetisa, romancista e filantropa, tendo fundado mais de sessenta escolas e pelo menos vinte asilos para abrigar meninas órfãs. Dedicou sua vida a ajudar outras mulheres, através de uma instituição que criou em 1901, em São Paulo, quando para lá se mudou, a “Associação Feminina Beneficente e Instrutiva”, que presidiu até sua morte, em 1919.

É uma rara obra em quadrinhos sobre uma mulher que dedicou-se a ajudar outras mulheres. Pelo menos em termos de biografias, os quadrinhos nacionais se dedicaram a falar da vida de santos ou de figuras históricas como a Princesa Isabel, por exemplo. Um quadrinho contando a vida de uma mulher comum, uma professora, é uma novidade para mim.

Mas Anália não foi bem uma mulher comum, foi uma mulher notável, mas que só ganhou visibilidade por estar ligada ao espiritismo. Ela seguia a doutrina espírita kardecista, Foi basicamente uma missionária que dedicou sua vida a servir ao outro. 

HQs religiosas não são minha especialidade mas, como leitora, eu até então não tinha visto nada relacionado à doutrina espírita em quadrinhos, salvo a biografia de Chico Xavier. Por isso eu pesquisei e encontrei outros quadrinhos espíritas, como o Espiritismo Kids, o blog Quadrinhos do Invisível, que tem webcomics espíritas, O personagem infantil "O Espiririnha" e até uma edição da Turma da Mônica!

Voltando à HQ dedicada a Anália Franco, a obra é assinada por Roque Jacintho, jornalista, contabilista e radialista, autor de vários livros nas áreas  jurídica, tributária, economia, administrativa, infantil e espírita. O quadrinho foi publicado pela editora espírita, FEB e pode, inclusive, ser adquirido pelo site da editora. O ano original da publicação não foi possível determinar, pelo menos não numa busca inicial e nem a autoria das ilustrações. O único autor creditado é Roque Jacintho.


As duas passagem narradas nos quadrinhos falam sobre dois temas que marcaram a vida desta mulher. Primeiro sua relação com a Igreja Católica, que muitas vezes atacou sua obra por ser ela baseada na doutrina espírita. Na primeira passagem a HQ mostra o preconceito contra a religião e, ao mesmo tempo, uma lição de tolerância religiosa. 

A segunda narra um episódio ligado à epidemia de febre espanhola, em 1918, que ameaçou as meninas de um abrigo gerenciado por Analia Franco. Mostra a luta da benfeitora para tentar salvar as meninas. Ironicamente, Anália morre no ano seguinte, vítima da febre espanhola, uma vez que se arriscou para cuidar das crianças e não foi forte o suficiente para sobreviver à doença.


Não entrando no mérito religioso, vale destacar que se trata de um quadrinho que pode ser considerado alinhado ao feminismo, uma vez que a protagonista é uma mulher e uma mulher dedicada a ajudar outras mulheres. Mas não é uma quadrinho feminista.

É um quadrinho histórico, pois narra fatos que ocorreram no início do século XX. Um quadrinho educativo, por assim dizer, e que pode ser usado para tratar de questões sociais e mesmo para discutir sobre a questão das doenças e da medicina no Brasil da Primeira República.

Fica como dica a leitura de uma dissertação de mestrado defendida recentemente sobre esta curiosa personagem feminina da nossa história.

CHAGAS , Floriza Garcia. Álbum das meninas, Revista Literária e Educativa dedicada às jovens brasileiras: estudo de um impresso de anália franco (1898-1901). Dissertação apresentada ao Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de São Paulo, na linha de pesquisa: sujeitos, saberes e processos educativos, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação, Guarulhos, 2016. Disponível em: http://ppg.unifesp.br/educacao/defesas-1/formularios/dissertacoes/2016/floriza-garcia-chagas, acesso em 03 ago. 2017.

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