quinta-feira, 23 de novembro de 2017

THE PUNISHER: UMA BREVE RESENHA

The Punisher, anti-herói da Marvel, criado pelo escritor Gerry Conway e pelos artistas Ross Andru e John Romita, Sr., em  1974. Sua estreia foi em uma revista do Homem Aranha. 
Assisti durante a semana a uma série de TV baseada nos quadrinhos da Marvel produzida pela Netflix, O Justiceiro (The Punisher). O Justiceiro é um homem mentalmente perturbado, atormentado pela morte da família e que quer vingá-la a todo custo. Nos quadrinhos essa vingança nunca termina.

O estilo "justiceiro implacável" é algo bem típico da cultura estadunidense, característicamente espartana. Atores como Charles Bronson e Clint Eastwood, ganharam fama com filmes regados a violência. Quentin Tarantino fez um enorme sucesso com Kill Bill. A lista de filmes regados à vingança como forma de justiça é enorme e a de quadrinhos, também.

Filmes violentos só me deixam impactada se eles possuírem uma boa carga dramática. Depois de assistir a adaptações anteriores de “O Justiceiro” eu fiquei surpresa com minha reação à série. Mais surpresa ainda de estar aqui, fazendo uma breve resenha sobre ela.

Eu gostei da forma como a série explorou a parte psicológica do personagem. Ela traz um Frank Castle perturbado, um homem perdido em uma dor tão profunda que só consegue sentir alívio sendo violento. Mas a violência é um vício cuja satisfação é passageira, então, Castle na verdade quer se libertar dela. O ator, Jon Bernthal, foi que melhor caracterizou Frank Castle até hoje, na minha modesta opinião.

 Jon Bernthal, caracterizado como o personagem
É uma série recomendada para público adulto, mas, certamente, muitos adolescentes vão assistir. Já ouvi até alguns comentários entre eles. Com o acesso fácil que se tem hoje a todo tipo de informação, não adianta proibir. Isso só vai servir para estimular ainda mais a curiosidade da garotada. O ideal é esclarecer que se trata de uma obra de ficção, que não retrata e nem deve retratar a vida real e que não deve ser utilizada como pretexto para se fazer apologia a ações violentas. Uma boa conversa pode funcionar melhor do que uma proibição.

Particularmente, eu não acho que um filme ou uma história em quadrinhos tenha poder de mudar a índole de uma pessoa. O público dialoga com a obra televisiva ou cinematográfica a partir dos valores e ideias que já estão interiorizadas. Opinião não se forma do nada. Pessoas com propensão à violência vão reproduzir violência em qualquer situação e o gatilho pode ser qualquer coisa, até mesmo um esbarrão se leva na rua.

De forma geral, eu classificaria “O Justiceiro” como uma boa série, para adultos, uma das melhores deste ano no estilo, produzida pela Netflix.

quarta-feira, 15 de novembro de 2017

A MANIPULAÇÃO DA MEMÓRIA

Mnemosine era a deusa grega da memória, era filha de Gaia e Urano. Com Zeus teve nove filhas: as Musas. Era uma das deusas mais importantes pois para os gregos a preservação da memória iria eternizá-los. O esquecimento das tristezas ficavam por conta de Lethe ou Lesmosyne,  a deusa do esquecimento. Na pintura está uma representação de Mnemosine e as Musas.

No início da República ocorreu uma polêmica envolvendo o jurista Rui Barbosa que, quando Ministro da Fazenda durante o governo de Deodoro da Fonseca, teria ordenado a queima em praça pública dos arquivos da escravidão, em 1889. Arquivos estes que continham os nomes e informações de escravos e de quilombos.

Defensores de Rui Barbosa contestam o fato, e afirmam que o jurista não ordenou tal ação. Eles podem até estar certos e talvez Rui Barbosa tenha sido tão vitima quando os ditos arquivos, cujas cinzas foram carregadas pelo vento. Mas é fato que muitos arquivos sobre a escravidão se perderam após o a abolição e com eles muitos indivíduos também perderam sua identidade.  Os anos que se seguiram ao fim da escravidão foram de reconstrução desta identidade.

Muitos ex-escravos devem ter sentido o choque de estar em uma sociedade que não se definia mais pelo fato de ser ou não livre. Perdidos neste novo mundo muitos deles ficaram entrincheirados entre passado e futuro. Para o mais românticos um recomeço, a chance de uma nova vida longe das senzalas e das chibatas. Para os mais céticos trocava-se um passado de trabalho e sofrimento por um futuro marcada pelo preconceito e a exclusão.

Tal reflexão trouxe-se à mente um poema da escritora e poetiza Carolina Maria de Jesus, que sintetiza a situação do negro, mais de meio século após a abolição

MUITAS FUGIAM AO ME VER

Muitas fugiam ao me ver
Pensando que eu não percebia
Outras pediam pra ler
Os versos que eu escrevia

Era papel que eu catava
Para custear o meu viver
E no lixo eu encontrava livros para ler
Quantas coisas eu quiz fazer
Fui tolhida pelo preconceito
Se eu extinguir quero renascer
Num país que predomina o preto

Adeus! Adeus, eu vou morrer!
E deixo esses versos ao meu país
Se é que temos o direito de renascer
Quero um lugar, onde o preto é feliz.

Carolina Maria de Jesus, em Antologia pessoal. (Organização José Carlos Sebe Bom Meihy). Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996.

Mais do que isso, a ideia de apagar a escravidão da memória nacional, a queima de arquivos, aponta para uma tendência: a pouca ou quase nenhuma preocupação com a preservação, seja do patrimônio cultural, seja da informação produzida ao longo dos anos. O Brasil não tem uma tradição de preservação da memória. De fato, parece que estamos fadados a optar muitas vezes pelo esquecimento.

Paul Ricoeur chama a atenção para os abusos advindos da manipulação da memória e do esquecimento pelos detentores do poder. A memória manipulada leva à fragilização da identidade coletiva. No processo de colonização da memória são escolhidos os monumentos que devemos preservar, os heróis que devemos honrar e informação que devemos esquecer.

A escravidão, ditadura e movimentos populares são alguns dos temas que são constantemente ameaçados pelo esquecimento. Exalta-se a bravura de Palmares e se esconde a exclusão do negro da sociedade. Por várias décadas, por exemplo, foi tabu falar sobre a Revolta da Chibata, movimento ocorrido dentro da Marinha brasileira, liderada por negros e mulatos, como João Cândido. Aqueles que tentaram tirar das sombras a memória da revolta foram duramente reprimidos. Foi preciso quase um século para que a Marinha brasileira reconhecesse a importância do movimento.

Ao longo da nossa história centenas de milhares de brasileiros foram massacrados por forças oficiais por terem se levantando contra a exploração e a miséria. A memória manipulada construiu uma história, contatada e recontada ao longo do século XX, onde estes cidadãos foram tratados como párias, loucos ou fanáticos e seus algozes como heróis. O que não pode ser esquecido é manipulado.

Somos por vezes forçados ao esquecimento e quando isso não é possível cria-se uma memória manipulada que produz uma identidade fragilizada, onde os significados se perdem, assim como se perde a nossa capacidade de questionar, dialogar, de reconhecer o valor da nossa herança, seja ela intelectual ou cultural.

Agora, no tempo presente, a manipulação da memória nunca foi tão intensa. São constantemente relatados casos de professores hostilizados impedidos de debater sobre temas como tortura e o autoritarismo. Já foram flagrados descartes irregulares de arquivos da ditadura, com o objeto de se encobrir o passado, de apagar a memória e de se impedir a construção de uma história não manipulada. Até Paulo Freire tem sido vítima desse processo: querem lhe tirar o título de Patrono da Educação Brasileira, excluindo da história a memória do filósofo e educador que tano lutou por uma escola inclusiva e de qualidade.


O tempo se torna inimigo da memória e da história uma vez que nosso passado está constantemente ameaçado pelo esquecimento, nosso presente marcado pela manipulação e as projeções para o futuro cada vez mais incertas e voláteis.

domingo, 5 de novembro de 2017

SÓ TEM UM JEITO DE RESOLVER O PROBLEMA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: INVESTIR NO PROFESSOR

Que me desculpem os economistas, mas crise econômica não é desculpa para diminuir o investimento em educação, pelo contrário: é aí que se deve investir mesmo. Investir na formação de bons professores, que vão formar os bons profissionais que irão um dia tirar  o Brasil da triste sina de ser um país que promete tanto, mas que nunca consegue dar um passo a frente sem dar dois atrás. 

Conversando com um amigo, que é professor de educação infantil, sobre a questão do investimento na educação eu acabei tirando o dia para refletir sobre o investimento que se faz na educação no Brasil.

Ele é brasileiro e mora num país onde se investe muito na educação (segundo ele 44% do PIB) e onde há uma grande demanda por professores e, portanto, oportunidade para estrangeiros trabalharem em docência. Ele está trabalhando em uma escola recém-inaugurada, com toda a infraestrutura necessária, e me disse que, ainda ano que vem, será aberta outra escola e serão contratados pelo menos mais 20 profissionais do ensino. 

Ele está fazendo mestrado e nos dias que precisa se ausentar para ir à universidade fazer as disciplinas, a escola o libera. Ele não precisa tirar licença porque sua carga horária não é excessiva, o que permite que ele estude e trabalhe. Eu poderia dizer mais coisas, que deixariam muitos dos meus colegas ansiosos para perguntar: “Que país é esse?”. Eu, da minha parte, responderia: “Não é o Brasil!”.

Eu tenho por convicção que um país se define como desenvolvido na medida em que investe em professores. E não é preciso muito. Um bom salário, uma carga horária compatível com seu trabalho, o incentivo e o investimento na formação, da graduação à pós-graduação.

Só vamos resolver o problema da educação se investirmos no professor. E não estou dizendo isso baseada em “achismos”. Eu procurei me informar.  A Finlândia, por exemplo, tem o seu sistema de educação reconhecido por ser o mais eficiente e qualificado do mundo. Lá de investe cerca de 50% do PIB em educação. Mas não foi sempre assim. Há cerca de 40 anos o sistema de ensino lá era caótico. O que se fez? Investimento, principalmente na formação de professores.

 

Então o Brasil não investe em educação? Sim, investimos, mas o dinheiro é muito mais direcionado aos recursos materiais do que humanos. Investimos bilhões, mas as universidades estão sucateadas. Investimos em computadores que não são usados, em laboratórios que ficam fechados porque não se contrata técnicos, em bibliotecas onde não há bibliotecários, mas não investimos nos profissionais do ensino.

 

No período da Ditadura Militar, o governo promoveu o arrocho salarial, rebaixando o salário mínimo para atrair empresas estrangeiras. Afinal, quem não quer mão de obra barata? E isso é cultural. No Brasil, um país com profundas raízes escravistas, o trabalhador tem que ser barato. E isso se aplica também ao professor.

 

Muitos pais talvez não entendam, mas para garantir que seus filhos tenham uma educação de qualidade não é necessário computadores ou celulares modernos, mas profissionais bem preparados e motivados. Um salário justo, uma carga horária moderada e investimento na formação. Há ilhas de excelência no Brasil, que mostram que essa receita é infalível. Municípios que reformaram o sistema de ensino e que fazem a Finlândia parecer estar aí ao lado.

 

Então, me desculpem os gestores, mas não dá pra ter qualidade em educação sem investir no professor.

 

Que tal ao invés de reuniões cansativas que prolongam a jornada diária de trabalho e desgastam os profissionais das escolas, não se investe em qualificação? Por que não reduzir a carga horária e permitir que o professor tenha tempo para planejar suas aulas e se aperfeiçoar?

 

No Brasil gosta-se muito de imitar o que outros países fazem. Então, fica aqui a dica: imitem investindo no professor.

AS PUBLICAÇÕES DA ASPAS E A DIVULGAÇÃO DOS ESTUDOS SOBRE HQS NO BRASIL

A Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial (ASPAS), surgiu como uma ideia em 2012, durante o I Fórum de Pesquisadores em Arte Sequencial que ocorreu em Leopoldina (MG), no CEFET. No ano seguinte, a ASPAS tornou-se uma realidade, reunindo pesquisadores de todo o Brasil. Começamos com 20 participantes e, atualmente, somos 62 membros atuantes, sendo que entre eles há pesquisadores de outros países, como Canadá, Suécia, Estados Unidos e França.

A partir de 2015 a ASPAS começou a publicar livros com textos dos seus associados e associadas. Alguns, dossiês temáticos, como o que trata sobre Religiosidades nas Histórias em Quadrinhos outros voltados para as Histórias em Quadrinhos e a Educação. O selo da ASPAS também estampa 6 publicações organizadas por associados. Em dois anos tivemos 5 publicações da ASPAS, sendo que algumas delas estão disponíveis para download gratuito no site da associação (clique aqui).


O livro mais recente foi "A Arte dos Quadrinhos", organizado por Edgar Franco e Catia Ana Baldoíno, com artigos escritos a partir de apresentações realizadas no III Fórum Nacional de Pesquisadores em Arte Sequencial, realizado em 2016 na UFG. Para 2018 já estão programadas mais duas publicações.

Com essas ações, a ASPAS busca divulgar as pesquisas na área, criar uma rede de apoio entre pesquisadores, com suporte bibliográfico e de fontes, a fim fazer circular um conhecimento produzido a partir de rígidos critérios metodológicos.

sexta-feira, 3 de novembro de 2017

PAGU UNE MUSE DE LA BD BRÉSILIENNE

Saiu este mês a edição número 54 da revista Papiers Nickelés, especializada em quadrinhos, especialmente em História dos Quadrinhos. A revista é publicada trimestralmente e traz textos muito interessantes autores e quadrinhos que foram na França e em vários outros países. Entre os textos publicados nesta novo edição (que acabei de receber em casa) está um artigo que eu escrevi sobre Pagú, uma versão em francês do trabalho que apresentei o Simpósio Nacional de Brasília este ano (clique aqui para ir ao texto integral). Posteriormente eu publiquei artigos sobre Hilde Weber, Nair de Teffé e Cecília Capuana. Acho que estou me especializando em biografias de autoras.

CONCURSO: LOGOMARCA FLILEO


A Academia Leopoldinense de Letras está preparando para o ano de 2018 a  I Festa Literária de Leopoldina – FLILEO e como primeira ação lançou um concurso para escolher a logomarca oficial do evento. A FLILEO tem entre seus objetivos finalidade incentivar a leitura, divulgar e incentivar os talentos locais.

Leia com atenção o regulamente e participe!

TEMA: Festa Literária de Leopoldina – FLILEO 

MODALIDADES:

  • ENSINO FUNDAMENTAL II 
  • ENSINO MÉDIO 

Obs.: Apenas as escolas estaduais, municipais e particulares localizadas no município de Leopoldina poderão participar deste Concurso.

CATEGORIA: Logomarca 
Logomarca: conjunto formado por letras e/ou imagens, com design que identifica, representa ou simboliza uma marca. 
(Fonte: Dicionário Aurélio de Português Online)

REGRAS PARA O CONCURSO: 
  • Preencher e assinar a Ficha de Inscrição em anexo; 
  • Desenhar a logomarca à mão no tamanho 15 x 21 cm, em uma folha A4, preferencialmente em até 4 cores; 
  • Fazer uma descrição da logomarca em uma folha A4, em separado do desenho; 
  • Entregar o desenho em 1 via, em envelope lacrado, de 13 a 20 de novembro de 2017, na Casa de Leitura Lya Maria Müller Botelho (Rua José Peres, 4 – Centro – Leopoldina/MG), de segunda a sexta-feira, das 9:00 às 11:00 e das 13:00 às 16:00; 
  • Identificar no envelope apenas “Concurso Logomarca da FLILEO”; 
  • Cada envelope deverá ter apenas um desenho. Para participar com dois desenhos, máximo permitido, deverá ser utilizado outro envelope de referência; 
  • As logomarcas deverão ser originais e não publicadas; 
  • A folha com o desenho da logomarca não poderá conter nenhuma outra informação além do desenho. 

PREMIAÇÃO: O autor da logomarca escolhida receberá um vale-livro para ser utilizado na Papelaria Central no valor de R$ 100,00 (cem reais). 

O resultado do Concurso será divulgado no blog da ALLA (www.academialeopoldinense.com) no dia 25 de novembro de 2017 e a premiação será entregue no dia 9 de dezembro de 2017, às 10 horas, no Museu Espaço dos Anjos.

JURADOS: membros da Academia Leopoldinense de Letras e Artes e representantes dos organizadores da FLILEO: Casa de Leitura Lya Botelho, CEFET-MG Campus Leopoldina, Conhecer Educação e Cultura, Superintendência Regional de Ensino ou pessoa indicada por tais entidades.

INFORMAÇÕES IMPORTANTES: 

  • Os trabalhos inscritos não serão devolvidos;
  • A logomarca vencedora será utilizada, a critério da organização do concurso, em todos os materiais da FLILEO, como, por exemplo, filipetas, correspondência, folder, cartazes, impressos, vestuário e quaisquer outros materiais necessários em meio eletrônico ou físico; 
  • O participante autoriza, desde já, a utilização de seu nome, imagem e texto para fins de divulgação/promoção do concurso; 
  • O meio de contato oficial com a ALLA será através do e-mail: academialeopoldinense@gmail.com ; 
  • É vedada a inscrição de membros da Academia Jovem de Letras e Artes de Leopoldina; 
  • A Diretoria da ALLA será a responsável para resolver, a qualquer tempo, todos os casos não previstos neste Regulamento.