sexta-feira, 12 de janeiro de 2018

MINHAS IMPRESSÕES SOBRE O PRÊMIO ARTEMISÍA - 2018

Quadrinistas premiadas em 2018
Ano passado eu tive oportunidades e privilégios. Em janeiro passado eu pude participar pela primeira vez do Festival Internacional de Angoulême, na França. Conheci vários quadrinistas, homens e mulheres, estrangeiros como os quais mantive contato durante todo o ano. Além disso, eu ainda me encontrei pessoalmente com a quadrinista italiana Cecília Capuana, sobre quem já havia publicado um texto. 

Alguns meses depois, em maio, eu tive o privilégio de poder conhecer pessoalmente uma das minhas ídolas, Chantal Montellier, que veio ao Brasil para participar da Semana Internacional de Quadrinhos, realizada pela ECO/UFRJ, que tem à frente da organização Amaury Fernandes e Octavio Aragão. Eu, particularmente, devo a ela minha inserção no mundo dos quadrinhos franceses, inclusive como autora. Chantal sugeriu meu nome para uma revista especializada em quadrinhos, a Papiers Nickelés e eu passei a ser correspondente da revista.
Eu, Chantal Montellier e Cecília Capuana.
Agora, dia 11 de janeiro de 2018 não apenas reencontrei com Chantal e Cecília, como tive a oportunidade de participar da entrega do Prêmio Artemísa, de 2018. O PRIX ARTEMISIA foi criado em 2007 para premiar os melhores quadrinhos produzidos por mulheres e publicados em francês. Uma forma de reconhecer o talento feminino nos quadrinhos franceses e de dar visibilidade às mulheres que trabalham nesta área. 

Para quem não sabe, o mercado editorial francês é extremamente sexista e a participação feminina ainda é pequena, embora esteja aumentando gradativammente a cada ano. De fato, se as mulheres não são a maioria das produtoras de quadrinhos atualmente figuram como as maiores leitoras sendo, portanto, não apenas justo como necessário o reconhecimento do talento destas artistas. Daí a importância de iniciativas como o Artemísia.


História em Quadrinhos que recebeu o grande prêmio.
O grande prêmio deste ano foi para a italiana  Lorena Canottiere  por seu álbum Verdad. Uma tocante história que envolve família, sentimentos e guerra. A ilustração do álbum é toda a lápis, singela e muito bonita. A autora é  espanhola e teve seu quadrinho publicado em francês pela editora Ici Même. Acredito que, em meio a tantos quadrinhos feitos por francesas, ter sido a grande vencedora tem um sabor especial e ratifica o fato de que Artemísia é um prêmio que deseja contemplar a todas as artistas, independentemente da nacionalidade. Quem sabe, um dia, não estaremos festejando a premiação de uma brasileira?

Minha edição autografada.
Ainda foram entregues os prêmios de ficção histórica para Julia Billet e Claire Fauvel pelo álbum La Guerre de Catherine; o prêmio humor para Aude Picault para o seu álbum Ideal Standard;  e Menção especial da luta feminista de 2018 para Leïla Slimani e Laetitia Coryn pelo seu álbum Paroles de honra e o prêmio de novo talento foi para Cécile Bidault pelo álbum L’Écorce des choses (Ed. Warum), um álbum quase sem diálogos que mostra a vida de uma mulher surda.

Outros álbuns também receberam menções, uma forma de incentivar jovens artistas, que estão ainda dando os primeiros passos na carreira. E jovens mesmo, na faixa dos vinte e poucos anos, com aquela carinha de quem acabou de concluir a faculdade. Foram elas: Leïla Slimani e Laetitia Coryn pelo álbum Paroles d’honneur (Les Arènes BD), menção honrosa "pela luta feminista"; Daria Schmitt pelo desenho do álbum Ornithomaniacs (Casterman); Gwenola Morizur e Fanny Montgermont, pela "qualidade documental" do seu álbum Bleu pétrole (Ed. Bamboo); 


Annie Goetzinger
Além da premiação, houve ainda dois momentos importantes. Um deles foi uma homenagem a Chantal Montellier, uma das idealizadoras do prêmio, que recebeu uma monção honrosa pelo álbum Shelter Market (Les Impressions Nouvelles). O outro foi uma emocionante homenagem a quadrinista quadrinista Annie Goetzinger, que faleceu no dia 20 de dezembro de 2017.

Minhas impressões sobre a premiação foram muitas, ainda mais depois de folhear e adquirir dois dos álbuns vencedores (infelizmente não tive como comprar todos). As temáticas foram as mais diversas assim como variou a arte de cada álbum, mas todos possuem uma coisa em comum: uma narrativa de qualidade. 

Mas como eu posso saber disso se acabei de mencionar que apenas folheei os álbuns? Acontece que, durante a entrega dos prêmios, um membro do juri faz um comentário sobre a obra premiada. Mesmo com meu francês limitado deu para perceber a preocupação em buscar temáticas mais densas, que passaram por memórias de guerra à questões ambientais. Também se valorizou a narrativa fluida, elegante, outra marca registrada das obras premiadas.

Enfim, ir à entrega do Prêmio Artemísia foi importante em vários sentidos mas, especialmente, pelo estímulo a mais em querer conhecer essas artistas extraordinárias, suas obras e sua história de vida. Afinal, todas travaram batalhas para poder chegar onde estão.

Nenhum comentário: